Como referido, estes dois temas mereciam por si só uma reflexão, mas hoje prefiro abordar um mal ainda maior provocado pela pandemia no sistema educacional: a ausência de aulas e as suas consequências nos alunos.

De acordo com um recente relatório divulgado pela UNESCO, as crianças e os jovens do mundo perderam em média 2/3 do ano lectivo por causa da pandemia. E, nos nossos dias, mais de 800 milhões de alunos (ou seja, mais da metade da população estudantil mundial) continuam sem aulas, entre eles, os estudantes angolanos do ensino primário (1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª e 5.ª classes), que regressaram às aulas no passado dia 10 de Fevereiro, aulas que estavam suspensas desde Março de 2020, devido à Covid-19.

Segundo o relatório da UNESCO, Angola é precisamente um dos países onde as escolas estiveram mais tempo encerradas, concretamente mais de 40 semanas. A média global foi de 22 semanas (5,5 meses).

A directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, foi clara na sua declaração, ao afirmar que «o fechamento prolongado de instituições de ensino causa impactos psicossociais crescente nos alunos, aumentando as perdas de aprendizagem e o risco de abandono escolar, afectando desproporcionalmente, deste modo, os mais vulneráveis».

Para Audrey Azoulay, o encerramento total das escolas deve ser o último recurso a ser escolhido, embora reconheça, ao mesmo tempo, que os estabelecimentos educacionais só podem abrir em total segurança sanitária. Uma segurança que recentemente foi colocada em causa pelo presidente do Sindicato Nacional dos Professores angolanos, Guilherme Silva, que assegurou à agência portuguesa de notícias, a Lusa, que as condições de biossegurança não estavam criadas, a nível do País, nas escolas do ensino primário.

A abertura ou não das escolas é um dos debates que ocorrem um pouco por todo o mundo. Está provado que o ensino à distância (quando este existiu) não conseguiu alcançar os resultados da consolidação dos saberes. Há, inclusive, muitos pedagogos que defendem que não se pode falar em aprendizagem no ensino on-line, principalmente por este não conseguir reter a mesma atenção que em aulas presenciais (e mesmo nessas há uma dispersão crescente, fruto da influência digital nas nossas vidas). Para muitos, «o ensino on-line é uma completa falsificação da educação».

Mas... E se não houver alternativas? E se o ensino on-line for a solução do futuro imediato? Será que é realmente uma alternativa tão nefasta como muitos defendem?

Estamos a viver, realmente, um momento singular e é necessário encontrar soluções sem tabus ou dogmas. Num momento crucial para milhões de alunos, é fundamental olhar com alguma reflexão sobre a ausência de aulas e as suas consequências.

O ensino on-line acarreta um enorme repto para o sistema educacional e, evidentemente, apresenta inúmeros desafios. Mas colocá-lo de lado em vez de integrá-lo do melhor modo possível parece uma decisão errada. Estamos a viver um período ímpar da história e é necessária clareza nas nossas decisões, sem medos do "desconhecido".

Entre uma escola fechada, uma escola aberta em risco sanitário e o desconhecimento geral do ensino on-line, temos de encontrar o melhor caminho entre estas três alternativas (ou outras...).

Acima de tudo, é fundamental encontrar a melhor pedagogia a utilizar. É verdade que o fecho das escolas coloca em causa o tradicional processo ensino-aprendizagem, mas, em pleno século XXI, também temos a obrigação de encontrar soluções que, mesmo que temporárias, resolvam os nossos problemas. O que não pode acontecer é este duelo de dogmas, já que o futuro de milhões de alunos está em xeque com a pandemia.

*Economista e especialista em Energia e Meio Ambiente