Percebo que para muitas pessoas o termo disputa eleitoral esteja ligado única e exclusivamente à conquista ou à manutenção do poder, e, se calhar, é por esta razão que a sua utilização e distribuição entre os vários actores da sociedade não têm sido amplamente debatidas entre os vários actores políticos, apesar de ser uma questão central para o alcance das transformações sociais e económicas que todos têm vindo a prometer face ao actual contexto.

Na minha opinião, todas as vezes que o poder não foi devidamente utilizado por quem o exerceu, em parte, foi porque esteve sempre dissociado de outro importante elemento, que é a "conscientização" por parte de quem governa e de quem é governado. E "conscientização" é um componente central de qualquer estratégia de desenvolvimento social e económico que coloca a pessoa (enquanto governante ou governado) no centro da sua vida.

Hoje já, eu não acredito quando se fala nas melhorias das condições de vida dos cidadãos sem que sejamos capazes de despertar nos mesmos cidadãos uma consciência crítica em relação ao ambiente em que se encontram, e é justamente esta consciência crítica que faz com que o cidadão actue em prol de tais melhorias com base nesta análise.

Por exemplo, todos partidos e formações políticas prometem erradicar a pobreza, mas esquecem-se que, para quebrar o ciclo da pobreza, não bastam apenas estratégias e políticas de carácter económico e social, por mais bem elaboradas que estas sejam, é indispensável que os grupos vulneráveis tenham acesso ao poder real. E eu não tenho dúvidas de que uma distribuição mais ampla do poder poria fim às situações de marginalização e exclusão social em que se encontram os mais empobrecidos.

Há décadas que para muitos dos meus compatriotas o único conceito que conhecem de poder se pode resumir naquela concepção de poder que procura, através das eleições, uma manutenção do status-quo ou uma mudança radical que desafia os padrões de poder existentes através do confronto entre os que não têm poder e os que o têm.

Mas em meu entender, do ponto de vista de desenvolvimento económico e social, ter poder é ser capaz de fazer, ser capaz e sentir-se mais em controlo das situações. Gosto mais desta abordagem porque vê as pessoas como agentes activos de mudança.

Neste sentido, as eleições e o poder que se disputa através delas são uma questão fundamental para qualquer transformação social e económica que pretendemos, por isso, entendo eu que eles (eleições e o poder) devem ser vistos como uma ferramenta e um processo que visa apoiar os grupos mais vulneráveis, bem como um fim que procura transformar os desequilíbrios de poder existentes.

Quem está consciente da necessidade de dar-se uma visão mais humana ao processo de desenvolvimento sabe de antemão que a partilha e distribuição de poder deve ser encarada como uma estratégia alternativa à forma tradicional como sempre se tentou promover o dito desenvolvimento económico e social. O objectivo, a longo prazo, é a transformação das estruturas que impossibilitam a partilha justa e equilibrada do poder.

Daí a necessidade de as pessoas assumirem o controlo das suas vidas e de se sentirem agentes de mudança para que o desenvolvimento seja sustentável. Desenvolvimento aqui entendido como um processo pelo qual o maior número de pessoas adquire a capacidade de tomar decisões sobre as suas vidas, onde anteriormente tinham acesso limitado ou nenhum acesso.