À medida que a situação se agrava, as opiniões variam sobre a revitalização (ou não) da NATO, da União Europeia ou do Reino Unido como potência regional activa.

Uma coisa parece-me clara: esta guerra traçou a linha que separa o Ocidente e os outros actores. Não se trata de uma questão de geografia, mas de ideologia. Isto pode parecer uma concepção demasiado redutora, mas a linha divisória que marca os limites do pensamento (como dizia Rolf Petri) está, na minha opinião, muito em evidência com a eclosão da guerra.

E é aqui que surge a questão que levanto para debate: África joga em que lado do tabuleiro?

Um continente, diferentes posições

A 2 de março, 28 países africanos apoiaram a resolução da ONU que condenava a invasão russa da Ucrânia, 17 abstiveram-se, oito não estiveram na sala e um votou contra: a Eritreia (a visão negativa do Ocidente e a estreita relação entre os presidentes Afwerki e Putin ditou esta decisão previsível).

Porque é que um Estado toleraria este hediondo ataque? A resposta é simples: o pragmatismo, a defesa dos seus interesses. Uma ordem mundial com actores novos e importantes, com interesses diferentes, leva vários Estados a optarem pela neutralidade em vez de tomarem posições que lhes poderiam custar caro mais tarde.

Se, por um lado, recordamos o discurso do embaixador queniano Martin Kimani no Conselho de Segurança da ONU, também é relevante recordar, por exemplo, as palavras do presidente ugandês, quando disse que os países ocidentais confiam em "dois pesos e duas medidas", afirmando que a diplomacia chinesa é "muito melhor do que a diplomacia ocidental". Ou quando o representante sul-africano chegou ao ponto de afirmar que os países ocidentais deveriam olhar para o passado para perceberem que eles próprios tinham cometido violações da Carta das Nações Unidas.

Não são apenas os zeros à direita que os conduzem

Historicamente, os países africanos em geral nunca gostaram de escolher lados. Contudo, é importante notar que após a Segunda Guerra Mundial, e ainda mais após a Guerra Fria, o movimento anti-imperialista/anti-ocidental cresceu em toda a África. Novos actores como a China, Índia, Turquia e Rússia emergiram para satisfazer os interesses de países devastados pela turbulência frequente da era pós-colonial.

E aqueles que pensam que estes novos jogadores só têm números nas suas cabeças estão enganados. Não só ajudam os líderes locais a preservar a estabilidade política, como também resolvem muitos problemas sociais e de segurança. Veja-se, por exemplo, a acção do grupo Wagner no Sahel, que, à sua maneira, substituiu as forças armadas francesas na luta contra o terrorismo islâmico. Tudo isto são negócios e, neste contexto, os negócios simbolizam a perpetuação do poder para as elites.

Seguir um caminho, uma ideologia, pode significar pôr em perigo a sobrevivência e o desenvolvimento destes Estados, sabendo antecipadamente que o status-quo e o "controlo" do mundo é cada vez mais imprevisível.

Ao mesmo tempo, esta guerra já está a ter graves consequências para os países africanos. Para se ter uma ideia numérica, o comércio entre a Rússia e a África subsaariana foi de cerca de 7,5 mil milhões de dólares em 2021, a maior parte deste valor ligado à indústria de armamento.

Quer devido à instabilidade nos negócios de armas, acordos comerciais, construção de infra-estruturas ou empréstimos, tem havido mais agitação nas ruas africanas, representando uma clara ameaça à já frágil estabilidade política e social destes países.

Por muito que o Ocidente considere crucial o apoio africano e tenha ficado surpreendido com a posição de vários Estados - como a Embaixadora dos EUA Jessica Lapenn deixou claro - é pouco provável que se sigam sanções económicas e políticas.

Resta saber se o pragmatismo empregado por alguns países africanos não terá, a médio ou longo prazo, um custo efectivo em maior escala, pondo em causa os laços políticos e comerciais com os parceiros globais ocidentais tradicionais.

São escolhas.