Os números falam por si e nos revelam que é muito pouca gente envolvida com fenómeno desportivo para um país que mais de 65% da sua população tem menos de 25 anos, não tendo o constrangimento que há em diversos países que é o envelhecimento da população, nem o outro problema relacionado com a obesidade infantil, sendo que, neste aspecto, eventualmente numa dimensão mais problemática, a questão é precisamente a inversa, o da subnutrição infantil.
A prática desportiva é uma ferramenta muito valiosa de emancipação e de aprendizagem. Não é um sector que se deva colocar em qualquer canto, esquecido. O desporto faz sonhar a juventude e faz que alguém possa encontrar o seu lugar na vida, podendo ter um impacto relevante a nível social e económico do País, com fortes sinergias para as áreas da saúde e do turismo, por exemplo.
Os clubes desportivos e as escolinhas que florescem dia-a-dia por este País por iniciativa de carolas, verdadeiros heróis do nosso tempo, pelo extraordinário impacto social do trabalho que realizam, deveriam ser potenciados para que pudessem irrigar mais desporto pelos nossos bairros, aldeias, vilas e cidades, de forma que este instrumento de intervenção assuma um lugar essencial no nosso projecto global de sociedade que se vai forjando dia-a-dia.
O grande desafio hoje é o de criar condições para se oferecer uma prática desportiva para todos e por todo o lado, numa espécie de reedição do programa lançado nos primeiros anos da nossa Independência Nacional "desporto para todos". Só nestas condições é que teremos o desporto enquanto fenómeno social integrado no modo de vida das pessoas, constituindo-se progressivamente num verdadeiro facto cultural.
A ambição de fazer de Angola uma "nação desportiva" em alinhamento com a relevância que o sector tem assumido no espaço internacional, nomeadamente, ao nível dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas, pressupõe, nesta altura, entre outras medidas, a elaboração de uma Estratégia de Desenvolvimento do Desporto, a definição de um modelo de financiamento adequado e a adopção de um plano de formação de quadros para o desporto.
Naturalmente que outro facto que importa mesmo destacar nesta "equação" é que não poderá haver uma estratégia ambiciosa em matéria de desenvolvimento de actividades físicas e desportivas se não se dispuser de instalações suficientes, adaptadas, abertas e repartidas, de tal modo que sejam acessíveis a toda população e em todo o território nacional.
*Jurista e presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga