A pandemia da Covid-19 criou em nós uma sensação quase permanente de medo. Medo de se contaminar e contaminar outros, medo de sair à rua para fazer actividades básicas, medo de socializar, medo de ver as notícias que apresentavam o número de mortos e infectados, medo de não resistir e até mesmo o medo de morrer. Nas sociedades exigentes e competitivas, o medo de defraudar expectativas, o medo de falhar está quase sempre presente nas pessoas, havendo uma necessidade cada vez maior de incentivo à confiança. Hoje, analiso a situação dos cerca de quinhentos profissionais que vão para o desemprego por causa do encerramento da Zap Viva e percebo que este período de nove meses que muitos deles ficaram em casa, mesmo recebendo os respectivos salários, foi, certamente, um período de difícil "gestação".

Havia, inicialmente, esperança de que a situação se iria inverter, mas, depois, foi um período de medo. Medo do futuro e de tudo que ele podia trazer (ou não trazer), medo do desemprego, medo de perder certas condições de vida, medo de passar a depender de terceiros, mas, acima de tudo, medo de perder a esperança. Falar de emprego é falar de cidadania e inclusão social e, quando o Executivo que criou expectativas no aumento da oferta de emprego é o mesmo que mostra uma certa inflexibilidade e por razões político-administrativas leva às pessoas ao desemprego, é algo que não pode estar bem: uma sociedade que exclui, que desvaloriza e abdica do cidadão que é essencial ao seu desenvolvimento e de instituições geradoras de rendimentos também para o próprio Estado.

O que se perde em empregos ganha-se no aumento do empobrecimento dos cidadãos. Hoje muitos deles vivem os chamados medos sociais, o medo de não serem socialmente aceites, medo da rejeição, de não se sentirem capazes, medo de passarem por uma certa vergonha social e, acima de tudo, medo das incertezas e de um futuro que pode não existir.


O medo é uma arma utilizada pelos poderosos para gerir as sociedades. O medo limita o pensamento e condiciona a acção. Quanto mais medo têm uns dos outros, mais necessidade têm de se proteger uns dos outros. Li, há dias, que, nos EUA, um dos medos mais comuns é o de perder o controlo sob o seu destino; já na Índia, é o medo de se tornar ou ser visto como impuro; os jovens no Japão têm medo de defraudar as expectativas profissionais e académicas dos seus pais em relação a si. Hoje, há entre nós um medo daquilo que o País nos reserva para o futuro.

Há um medo de se perder direitos adquiridos, a honra e a dignidade. Medo de perder o sentido da vida. Medo de encarar a realidade de que Angola não é ainda no presente o País que se quer, mas também medo daquilo que o futuro anuncia. Medo de perder o pouco que se tem, medo de deixar de ter as necessidades básicas de sobrevivência. Mais do que medo do poder é o medo da sua impotência perante o poder, medo de parecer ter medo, medo de ser incapaz, medo de ser sempre o medíocre, o falhado, o excluído. O

s medos contraditórios são interessantes e podem apelar à acção. O medo pode levar as pessoas a votarem para que quem está na governação permaneça no poder ou que quem está na oposição seja uma alternativa ao poder ou ainda a não votar. Há quem tenha medo de que o medo acabe e também medo de que um chamado Quarto Poder tenha poder. A educação, informação e cidadania são bons e eficazes antídotos para o medo.