O CCU promoveu, naquela década, as mais variadas actividades, procurando congregar, em seu redor, entusiastas de vários tipos, o que, numa considerável extensão, conseguiu. Nomes que vieram a tornar-se figuras centrais da canção angolana, como Zé Kafala (depois Irmãos Kafala, com o Moisés), Duo Tchissossi, SOS, Carlos Lopes, numa altura em que ainda davam os passos preliminares que os levariam ao caminho da consagração, encheram de música aquele local, junto a Mestre Zeca, figura inigualável, com a sua viola e harmónica, ecoando o Umbi-Umbi na sua interpretação única. Valdemar Bastos revelou-se numa actividade promovida no recinto da antiga Faculdade de Medicina (junto à Delegacia de Saúde de então). Consagrados, como Martinho da Vila, também ali actuaram, enobrecendo aquele pátio, virado palco. Na Faculdade de Engenharia, actuaram alguns dos integrantes do projecto Kalunga 2, com destaque para Edú Lobo (Upa Neguinho) e Ana Buarque.

A prática das artes cénicas, com o impulso do Orlando Sérgio, e tendo como base o grupo de teatro da Faculdade de Medicina, que, na nossa opinião, muito contribuiu para o que viria a ser o "Elinga Teatro", animou muitas noites do CCU, com as suas representações coloridas, sempre abordando temas sociais relevantes.

A Brigada Jovem de Literatura teve ali a primeira sede e centro de encontro. Carlos São Vicente, Carlos Ferreira, Lopito Feijó, Luís Kandjimbo, Fernando Couto e figuras precocemente desaparecidas, como o Mafala e o Ginginha, foram alguns dos que animaram as reuniões regulares, nas quais se procurava discutir e fazer literatura.

Os debates, com a participação de monstros sagrados da nossa literatura, como António Jacinto, Uanhenga Xitu, Luandino, Pepetela (discutindo o Mayombe), Eugénio Ferreira, Manuel Rui e Arlindo Barbeitos, e o musicólogo Mário Rui Rocha Matos, atraíam um público sedento de cultura. Atreveríamo-nos até a vê-los como os precursores das celebradas "Makas à 4.ª Feira" da União dos Escritores Angolanos.

A dedicação e entusiasmo de um dos responsáveis do CCU, o Fernando Morais, (Dito) permitiu ao maestro Jorge Macedo dar corpo e dirigir o Coro Universitário, que chegou a ter impacto na sociedade luandense da altura, com as suas adaptações, cheias de génio, de músicas do cancioneiro popular, tendo mesmo realizado uma tournée de sucesso na Itália! Carlos Amorim, Milu Sardinha, Ana Maria, João Oliveira, Ana Edith, Manuel Gaspar, Armanda Fortes, Zé Ferrão, Antónia Nelumba e Marina Campos foram alguns dos que ali ergueram as suas vozes.

Os amantes do cinema, com o entusiasmo do Eng.º João Carvalho Sanches, fizeram mostras de películas que faziam parte da história do cinema e que a Cinemateca Nacional conservava, utilizando o carro móvel da LASP. Era ele também a alma do Núcleo Filatélico Universitário, que contava com a participação e sabedoria do Eng.º Abílio Alves Fernandes, profissional sério e dedicado, que, como o seu colega já citado, tinha uma enorme paixão pela filatelia.

O jazz foi introduzido nas noites do CCU, por Jerónimo Belo, que nos presentou com essa música requintada e tão exigente. Ainda recordo, na primeira sessão, o deslumbramento com o "Song for my Father" - de Horace Silver, Dollar Brand em Montreux, e o quarteto de Max Roach com um conjunto de solos inesquecíveis.

Ainda na música, com o professor Tôn Dai, e o apoio do Manuel Vitória Pereira, organizaram-se aulas de viola, muito concorridas. Tôn Dai era, igualmente, artista plástico, e as suas aguarelas extasiaram quem as foi ver em exposição, no salão principal, onde também expuseram Ole e Etona, bem como Henrique Abranches, que não só nos ofereceu o prazer de apreciar as suas pranchas de banda desenhada (e as naus e caravelas que montava com tanto detalhe), como depois ali organizou o curso de banda desenhada, precursor de uma actividade que viria a manter por muitos anos, e que permitiram que jovens como o Sérgio Piçarra, Lito Silva e Hugo Fernandes, pudessem desenvolver a sua natural genialidade, formando a elite desta arte em Angola.

O bar, gerido pela Melita Fonseca, amenizava o ambiente e permitia um rápido desjejum.

A pátina do tempo torna as memórias mais relevantes. O CCU cumpriu o seu papel, não só para a cultura, mas também para a tolerância, congregando jovens de todos os quadrantes, num período tão polarizado da nossa história.