De pouco me adianta anunciar a zona, pois de estatística não somos peritos e num relatório policial já se sabe que não há nada a declarar, se entendem a ênfase e o não-exagero de interpretação.
Passavam das 14 horas e a vítima preparava-se para atravessar a estrada, quando alguém chamou por ela como se a conhecesse e, quando essa olhou para trás, tinha uma arma branca subtilmente apontada ao pescoço.
Foi tudo feito com tanta mestria que a mim me parece que há algures nesta cidade, uma escola de formação de delinquentes, pois as técnicas são cada vez mais audazes e meticulosas.
Confesso que meti o rabo entre as pernas, socorrendo-me aqui desta velha expressão, e sufoquei a risonha coragem que existe em mim. Não fui capaz sequer de buzinar ou de gritar: Gatuno! Gatuno! Ou ainda de pôr-me loucamente a correr para afugentar o larápio, que certamente não estava sozinho.
Não sei quantos vídeos recebi esta semana no meu telefone de assaltos ali e acolá, que eu penso cá comigo que nenhum destes marmanjos se assustou com o recado do comandante-geral da Polícia Nacional, quando comparou a acção da Polícia a uma rosa de espinhos.
As constantes advertências feitas, de que se vai agir em conformidade ou a "garantia" de que está tudo bem na cidade de Luanda, não alteiam a tranquilidade que se pretende.
Numa das minhas crónicas neste espaço, escrevi que o combate à criminalidade não pode ser encarado como uma brincadeira. Não se trata do argumento de uma peça de teatro ou do mote de um cartoon de Sérgio Piçarra, se bem que até o Mankiko me pareça mais atento.
Como se sabe, assim como a saúde e a educação, a segurança é um dos elementos fundamentais no escopo de uma sociedade. Tirando-nos isso, estamos despidos da emancipação, da vaidade de nos sentirmos humanos e passamos a reclusos com direito a noites de insónia, disfarces estridentes e desagrado angustiante.
A actuação que se espera não é cliché, não é demanda de terceiros, não é chancela extraterrestre. O que mais precisamos dizer? Outro dia alguém afirmou à boca pequena que a população precisa de agir, pois a Polícia não consegue estar em todo o lado... Podemos entender isso como cada um por si e Deus por todos? Ora bolas, vamos sair por aí a dar tiros para o alto, a queimar bandidos e à catanada? Sejamos mais sérios!
Fala-se em planos de desestabilização, mas Luanda de ano para ano tem estado pior. Será que nesse plano se consegue perceber de onde vêm as armas que estão nas mãos dos meliantes? Ou porque os bandidos de noite estão na cela de uma esquadra e de manhã estão numa very nice num canto qualquer? Ou porque aos nossos olhos parecem ludibriar tudo e todos?
Importamos tanta coisa, porque não implantar aqui o programa de Tolerância Zero que permitiu Rudy Giuliani, então Mayor de Nova York, acabar com as perversões naquela metrópole ao combater impiedosamente dos pequenos delitos ao crime organizado. Mais de 1.200 criminosos ligados à máfia foram parar a cadeia entre 1994 e 2001.
Formado em Direito, Rudy Giuliani, hoje também conhecido por ter feito parte da equipa de advogados do ex-Presidente Donald Trump, tem, entre os seus melhores feitos, a reforma na polícia nova iorquina e na sua actuação, ao aplicar a teoria das janelas partidas.
Essa teoria surgiu em 1969, na Stanford University, a partir de experiências da Psicologia Social, onde foi possível verificar que a desordem, a negligência e o abuso são alguns dos principais factores para a prática de crimes que apenas uma política da tolerância zero é capaz de conter.
Apesar do sucesso, a política desencadeou excessos e críticas, mas pode ser tida como um ponto de partida para uma cidade que certamente merece uma limpeza e merece devolver a confiança dos cidadãos nas instituições de segurança pública.
Policiamento comunitário, requalificação dos efectivos, adopção das novas tecnologias, reforço da estratégia de investigação são alguns dos pressupostos que é importante não dissimular num urgente processo de mudança.

Por enquanto, resta-nos dizer que não estamos seguros, não senhor, não estamos mentalmente a visualizar Osaka, Amesterdão, Sidney ou Lisboa. Estamos aqui mesmo a fumar os vidros dos carros com o tom mais negro, a encafuar os telefones onde não se possa espreitar, a armadilhar as casas com cercas, cães e armas e a desejar ter olhos em todo lado e Deus permanentemente connosco.