Pelo meio, continuamos a assistir ao desfile de uma revisão constitucional que, servida como aperitivo antes das eleições, está agora na montra. A boa governação, servida como prato principal pós-eleições continua, porém, no armazém.

Se, a primeira pode abrir espaço à conquista de mais direitos e garantias de liberdade para os cidadãos, a segunda, parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, "de nada vale, se for esvaziada pela pobreza"...

Logo, quem governa tem de se preocupar cada vez mais com as boas práticas e com políticas públicas capazes de responderem às exigências materiais e espirituais das comunidades.

Quem governa não se pode embriagar com a "peixeirada política", que, de parte a parte, já está aí a conspurcar um ambiente caldeado de intrigas e de manipulações e a pôr a nu a baixeza de nível da nossa elite partidária.

Quem governa tem de perceber que está a aumentar nas urnas o divórcio com os governados, que, desde 2010, se sentem cada vez mais insatisfeitos com a forma como a locomotiva da governação tem sido conduzida...

A quem governa não se recomenda, por isso, que tenha a veleidade de se apresentar com o rei na barriga, ignorando a apertada margem de vitória alcançada no último sufrágio...

É verdade que, quem governa, já fez algumas rupturas de monta, que terão aberto espaço para a sedimentação, a longo prazo, de políticas públicas mais estáveis e credíveis, e que, nalguns casos, desmantelaram poderosos interesses.

Uma dessas rupturas registou-se ao nível da política monetária e cambial e consagrou a recente conquista, pelo BNA, de autonomia em relação ao poder político.

E ao habilitar-se à equivalência da supervisão europeia, o BNA dá outro bom exemplo de transparência, que permitirá, mais garantidamente a partir de 2023, repor a imagem da banca angolana no exterior, reabrindo as portas a uma premissa fundamental para a sua sobrevivência: o reatamento das relações com os bancos correspondentes.

Espera-se agora que um novo salto em frente passe pela vinda de duas ou três grandes multinacionais, que, sendo cotadas nas Bolsas de Londres, Nova York ou Tóquio, ajudariam a criar um ambiente de negócios mais favorável e a promover a atracção de novos investidores, através da instalação de um modelo tipo shopping.

Com o surgimento, por exemplo, de uma Vodafone ou de uma Orange como investidores em Angola, ou, face à saída a curto prazo da Sonangol do BFA, com a entrada de um Banco Internacional, europeu ou norte-americano no seu capital, o país ganharia em quatro frentes: reputação internacional, valor acrescentado nacional, funcionalidade e visão de longo prazo.

Como reconhece o PCA da ANPG - Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - Paulino Jerónimo - "é hora de ir à busca do investidor e não esperar que ele chegue até nós"...

Outra saudável ruptura acaba de ser protagonizada pelo Ministro dos Transportes, Ricardo Viegas D"Abreu, que, depois de termos visto a gestão do Porto de Luanda coberta de toneladas de arcaísmo e de nuvens de corrupção, decidiu apostar numa multinacional - a DP World - a qual, dotada de "kow-how" e experiência, se propõe a conferir modernidade, profissionalismo e rentabilidade à sua gestão.

Foi também com vista à sustentabilidade e à transparência, que o Ministro dos Petróleos, de forma corajosa, decidiu retirar a função concessionária à Sonangol e apostar na modernização da refinaria de Luanda e, em simultâneo, em Cabinda, na construção da primeira refinaria em Angola pós-Independência.

Ao pretender ir mais longe, Diamantino Azevedo só pode ser encorajado a perseguir os seus esforços visando a melhoria da qualidade do uso das receitas do petróleo e de outros recursos minerais, para tentar colocá-las ao serviço da diversificação da economia.

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