Na madrugada desta quinta-feira, 25, em pleno "pato bravo" (nome que a redacção atribuiu à maratona de fecho do NJ), eu e os demais colegas tivemos de nos deslocar até à Unidade Operativa de Luanda (UOL) para apoiar um companheiro que lá se encontrava a prestar declarações após ter sido abordado na via pública por agentes reguladores de trânsito.

Eu e os colegas que me acompanhavam fomo-nos preparando psicologicamente para uma longa e desgastante estada na UOL.

As nossas mentes já tinham desenhado um cenário de argumentações e contra-argumentações. Já estávamos preparados para um "trungungo" verbal, tanto que

aparecemos quase na máxima força para aquele que seria um duro diálogo

madrugador entre jornalistas e polícias.

O oficial superior de assistência (OSA) era o subinspector José Macaia. E foi a sua postura que motivou este editorial. Fomos recebidos por um homem que, além de conhecer muito bem o trabalho que faz, respeita o trabalho alheio. A forma educada, responsável, profissional e disciplinadora como nos recebeu e tratou o processo marcou-nos muito. Mas ficou, acima de tudo, o registo da pedagogia da sua actuação, a delicadeza na abordagem e clareza na comunicação.

É que nem sempre a cooperação/relação entre o polícia e o cidadão é fácil, sendo que, muitas vezes, se cria um clima de desconfiança e até mesmo de insegurança. José Macaia fez-nos perceber que a acção pedagógica é um elemento que agrega valores e gera frutos.

A Polícia vive, hoje, sob muita pressão social, profissional e até mesmo mediática. Exerce uma actividade sujeita a inúmeros riscos, tem baixos salários e reclama das condições de trabalho e de um justo e equilibrado processo de progressão de carreiras. Enfrenta dificuldades logísticas, técnicas e humanas.

O sistema de protecção social precisa de ser melhorado e com maior transparência na sua gestão. As lutas de egos, competências e influências, corrupção, excesso de zelo e abuso de poder são situações que afectam negativamente a corporação, deixando-a mesmo numa situação fragilizada aos olhos dos cidadãos.

A permanente divulgação, por parte da comunicação social, de casos de detenção de polícias, agravada por um vídeo que se tornou viral nas redes sociais, em que um agente de trânsito foge quando é interpelado por oficiais do SIC e da IGAE, provocou indignação no seio dos polícias.

Alguns áudios e vídeos nas redes sociais mostram o clima de descontentamento entre as autoridades policiais. Está instalada uma "guerra surda" e um clima de crispação entre as duas instituições.

É lógico que baixos salários e más condições de trabalho não podem legitimar ou oficializar a extorsão ao pacato cidadão, não sendo também correcto que se estejam a filmar detenções de polícias para depois se "espalhar" nas redes sociais.

Não pode passar a ideia de que estamos perante uma unidade de "caça-polícias". É mau e é errado. Não se pode usar o poder inspectivo para o transformar num show mediático e é até muitas vezes humilhante para os alegados infractores.

É uma situação delicada, uma crise entre instituições e que urge o diálogo e intervenção das respectivas chefias para o sanar.

Será necessária muita ponderação, bom-senso e pedagogia.

Há políticos bons e há políticos maus, tal como existem jornalistas bons e jornalistas maus, também existem polícias bons e polícias maus. Mas, o exemplo, a postura e a atitude do subinspector José Macaia veio mostrar que há muitos que honram e orgulham a farda. Que há muitos que têm espírito de missão, sentido de Estado, que têm noção do que é o apoio e

protecção dos cidadãos.

Numa sociedade em que o assassínio de carácter se vai tornando regra, em que os rótulos predominam, em que a verdade e a honestidade estão a perder importância como pilares sociais e morais, estes exemplos, como o que eu e os meus colegas vivenciámos na UOL, revelam que as boas práticas, os bons exemplos e as boas atitudes ainda estão presentes. Que não sejam uma rara excepção, mas que passem a ser a regra!

A pedagogia policial pode ser uma importante e interessante "arma" para "aniquilar"

muitos anticorpos que ainda existem na relação entre a Polícia e os cidadãos.