Estamos num momento crucial que exige a mudança de rumo através da emergência da definição de prioridades realistas. Já perdemos tudo quanto tínhamos para perder, o tempo, a vida, a esperança, o presente, a paciência, incluindo a democracia (eleições autárquicas sem prazo para acontecerem e outras aberrações no atropelo do Estado de Direito) que não se materializa por decreto. Mas não podemos perder o futuro. Esta árdua tarefa exige, a todos os que tenham intenções de continuar a governar este País, um trabalho ético, baseado na inteligência emocional, na inovação e na ciência, no amor pelo próximo e no patriotismo, considerando que os sacrifícios devem ser repartidos por todos, incluindo o poder político que deverá pôr fim a toda a despesa supérflua e de engrandecimento dos egos de ganhos políticos inexistentes.


O povo tornou-se politicamente consciente e já não consegue suportar o facto de Angola ser um dos países mais ricos de África e que, ao mesmo tempo, tenha uma pobreza crescente, medieval, desumana, moribunda, sem respeito pela vida humana e sem garantia de qualquer mínimo olímpico de dignidade. Não somos nada um povo especial. Somos um povo à deriva, um povo sofrido, cheio de dor e com fome. Somos um povo sem sonhos, um povo sobrevivente, refugiado na sua casa, que morre todos os dias por causa da indiferença institucional. A pobreza é filha da ausência de sentido de Estado e é a "pior forma de violência", como nos ensinou Ghandi.


É esta relação desigual e a existência de dois países (o dos que comem e são uma minoria e o dos que não comem) que estrangula o desenvolvimento de Angola. A riqueza dos nossos dirigentes impede que eles vejam e sintam o País real, torvou-lhes o discernimento e não permite que sejam coniventes com a justiça social e a repartição equitativa da riqueza nacional. Dá trabalho essa coisa de ser consciente e desenvolver políticas que tenham por base a bondade da verdadeira preocupação com os pobres. E, por isso, nunca se importaram com o bem-estar das pessoas, nem com a felicidade colectiva, que na realidade são as principais exigências da base do desenvolvimento sustentável.


A qualidade da nossa democracia é deprimente. O País é gerido pela intriga, compadrio, militância cega, atropelo de regras básicas, promiscuidade entre os três poderes e ausência de seriedade na definição das prioridades. Há uma compreensão irrealista da pobreza, e o seu "aplaudido" combate apenas tem combatido os pobres. A indiferença institucional perante a fome nacional é uma tremenda preocupação e uma dolorosa maldade, que noutros momentos históricos custou a cabeça da Maria Antonieta, por ter não aprendido a defender o pão do povo.


Angola também tem FOME de grandeza. Fome de servidores públicos inspirados, verticais, éticos, capazes de construírem um país com sentimento de pertença e orgulho na criação de soluções definitivas e eficazes com empatia fora dos negócios. A verdadeira sabedoria não vem da acumulação de títulos ou diplomas, mas, sim, de um despertar da CONSCIÊNCIA, que exige que o servidor público seja fiel e eficaz na resolução dos anseios do povo, que agregue valor à unidade nacional e à construção de um lugar de dignidade para todos os cidadãos. É que, por voltas que se dê, por mais planos que elaborem, todos os exemplos mostram que só assim que se constroem as Nações prósperas e não estamos, de todo, a inventar a roda.