O assédio sexual também pode ser de mulher para homem, mulher para mulher e homem para homem, porém, na maior parte dos casos, é de homem para mulher. Há cada vez mais relatos de casos de assédio sexual no local de trabalho. Existem testemunhos de indivíduos que usam a sua posição hierárquica para obter vantagens sexuais, mas é preciso referir que este comportamento também ocorre entre pessoas com o mesmo nível hierárquico.

Insinuações explícitas ou veladas, comentários sexuais, gestos ou olhares considerados desagradáveis ou constrangedores, contacto físico forçado ou indesejado, conversas indesejáveis sobre sexo, tentativa de beijo forçado, chantagem para a permanência ou promoção no emprego, convites para jantares, viagens, transferência forçada de local de trabalho com o objectivo de facilitar as investidas sexuais (a vítima fica exposta, fragilizada e vulnerável), boleias à universidade e a casa, bem como exibicionismo são algumas das manobras que os assediadores adoptam para pressionar e submeter as suas vítimas a constantes humilhações e constrangimentos.

A prova do assédio é difícil de ser produzida pela vítima, o assediador sabe dissimular, pratica muita das investidas, que são feitas às escondidas, visando evitar testemunhas. O que se aconselha é que a vítima reúna sempre provas, como mensagens por e-mail e Whatsapp, áudios, vídeos, bilhetes para usar em sua defesa, entre outras coisas. E porque se calam muitas mulheres? Por causa da dependência social e financeira, o medo de perder o emprego, o medo de sofrer discriminação, o receio da exposição e humilhação, a vergonha social, o receio de ser ridicularizada, de ser rotulada como leviana, ser vista como namoradeira. Muitas mulheres ocultam a situação aos seus parceiros com medo da sua reacção ou interpretação da situação. Outras simplesmente se isolam, sofrem em silêncio, vivendo com as consequências emocionais e psicológicas do assédio sexual que resultam em depressão, ansiedade, problemas de concentração e baixo desempenho profissional.

Estas mulheres sofrem ainda mais porque há ainda muita dificuldade e resistência em se falar deste assunto no espaço público. O tema não entra na agenda das linhas editoriais dos órgãos de comunicação social ou nos debates mediáticos. É ainda um assunto com tabu e é assim que se quer que permaneça. E enquanto está no silêncio, há vozes que se silenciam para sempre, há mulheres desesperadas e a lutar para recuperar a honra e a dignidade. Existe um silêncio cúmplice e conivente de pessoas e instituições.

Há uma espécie de "normalização" do assédio, há uma postura machista e corporativista que muito contribui para que o acto e os seus "actores" se mantenham impunes. Há ausência de consciência colectiva deste mal e das suas consequências. Há um machismo, um poder perverso que olha para as mulheres como um mero objecto de satisfação sexual. Não há uma censura social face a este tipo de comportamento. Se não se assume a existência do assédio sexual entre nós, dificilmente se conseguirá trabalhar na prevenção e no apoio à vítima. Na maior parte das vezes se cala, se ignora e minimiza o problema porque a preocupação nunca foi a de proteger a vítima, mas, sim, o agressor.

Mesmo que se venha a penalizar o autor (infelizmente na maior parte dos casos eles acabam impunes por falta de provas), a vítima fica sempre com a sua honra, liberdade, dignidade, confiança, estrutura mental abalada. Não há cultura de denúncia, não existem estruturas ou organismos de apoio e protecção nas instituições.

O assédio sexual é uma das mais graves e dolorosas formas de violência e que se vai agravando com facilidade. Começa, muitas vezes, de forma verbal, evolui para a agressão física e termina em violação. Este é um silêncio que precisa de ser quebrado. É um silêncio que corrói e causa dor. É um silêncio que todos os dias adia sonhos e desonra um ser humano. Pior do que o silêncio de quem sofre é o silêncio de quem sabe, vê e se cala. É muita dor e sofrimento para se ficar no silêncio conivente.