Jerónimo Belo, crítico de Jazz e animador de "Jazz LAC, desde 1992, e ao longo de décadas do "Clube de Jazz" na TPA, é o responsável pela iniciativa, cuja inauguração foi na terça-feira, 29 de Abril, às 17H30, no Camões, que reabre as portas ao Jazz, apoiando assim mais essa iniciativa. Um evento reservado a convidados devido às limitações impostas pela actual situação sanitária mundial.

Breve retrato da expo

Quarenta belas fotos, em tamanho A3 e a preto e branco - as cores do Jazz ... -, emprestaram muita cor ao Camões, prendiam o olhar, insinuavam-se nos tímpanos e ganhavam o coração de quem as apreciava. Tinham o dom de transportar para as várias festas de Jazz nelas retratadas com arte e sentimento.

Presentes na inauguração, ouvimos e bebemos da apresentação de JB:

"Para fotografar Jazz, é preciso saber captar o que se não vê... Um fotógrafo a fotografar Jazz é um repórter de uma arte que a câmara silencia. Uma foto-Jazz é a fixação do instante em que o músico se passa para o lado de lá, aquele instante de beleza, quando ele nos abandona e vive a música. Fotografar aquilo que não se vê é difícil, muito difícil, porque a foto deve parecer que canta, toca, que sola. É isto ver Jazz. A imagem do som em silêncio silenciado. É fotografar o que se sente, ouve ou vê..."

Durante o convívio, que durou cerca de duas horas, Nino Jazz (piano) e Mário Gomes (guitarra), de olhos postos nas fotos, brindaram os presentes com saborosas sonoridades de Jazz, inspiradas nos grandes criadores desta música: John Coltrane e Chick Corea, enquanto se molhava o evento. Na primeira oportunidade, quisemos saber de Jerónimo Belo por que razão optara por regressar à obra de Rosa Reis, fotógrafa portuguesa, que já não é uma ilustre desconhecida, na medida em que este "Sombras & Luz" é a sua sexta exposição em Angola, em Luanda e no Lubango, em particular.

Eis a história contada pelo crítico:

"Conheci-a em Portugal, durante os concertos do Estoril Jazz 2006. Fiquei impressionadíssimo ao ver como segurava a câmara, olhava para os músicos e disparava..."

JB foi contactá-la e "nasceu ali uma bela amizade".E foi ali, também, que a exposição ficou acertada, sem necessidade de trato escrito. Na bagagem trazida de Lisboa, um presente estimado: "um exemplar do seu belíssimo livro de fotografias - Jazz, 400 páginas a preto e branco - que são um verdadeiro bálsamo para os olhos..."

Foi assim que tudo começou. E a primeira exposição realizou-se na Humbihumbi, do Tirso Amaral.

"A multiplicidade dos mass media e a pluralidade das artes situam o Jazz contemporâneo como um projecto cada vez mais actual, um projecto da pós-modernidade".

"Os grandes testemunhos visuais do século XX negligenciaram o Jazz. No entanto, com a evolução decisiva que a fotografia Jazz vem conhecendo impulsionada por criadores como Herman Leonard e Charles Stewart, nos Estados Unidos, que mostraram ao mundo milhares de imagens sublimes dos bastidores e dos estúdios de Nova Iorque, e também de outros artistas da fotografia na Europa e no Japão, chegamos hoje ao ingresso da fotografia no mundo do Jazz".

"Razão forte e mais do que justificada neste 10.º aniversário do Dia Internacional do Jazz (e o oitavo consecutivo que consigo organizar) para juntar gente do Jazz e da Arte para conviver com alguns dos rostos que fizeram e fazem o esplendor desta arte viva e sólida que é o Jazz", disse o crítico a concluir.

Retrato da fotógrafa

Rosa Reis é fotógrafa "freelancer", formada na ARCO. Desenvolve projectos de autor e colabora com o Ecomuseu Municipal do Seixal (Portugal), na área do Património e Arqueologia Industrial.

Está representada em colecções de numerosas instituições europeias. Já ganhou cerca de 100 prémios em concursos de fotografia. Tem fotos publicadas em várias revistas de prestígio internacional. Apreciemos o retrato que dela e destas suas "Memórias" nos faz Maria do Carmo Serén, do Centro Português de Fotografia:

"Rosa Reis deixa-nos a ausência: a ausência do som, a mais frustrante das faltas. O nosso dispositivo de ouvir é arcaico, não evolui com o progresso das tecnologias, ocupado em simular o que mal ouvimos, o que mal interpretamos. Por isso somos capazes de reconstruir a ausência, imaginar foras-de-campo e todas as cinestesias. O Jazz arrisca, por vezes, ultrapassar o limite das simulações do som que a espécie preservou para a sobrevivência. Não se deixa habitar, invade-nos, sujeita-nos.

É também no fio do arame que o entendemos nestas imagens de Rosa Reis."

Sombras & Luz inclui pinturas de Lino Damião e Hildebrando de Melo, que o curador resume nestes termos: "Ritmos Coloridos".

E ainda dois desenhos de Judy Ann Seidman, cidadã americana residente na África do Sul; uma resistente que fez da Arte uma arma anti-apartheid.

"Vamos continuar muito empenhados em manter a chama do Jazz acesa", disse Jerónimo Belo.