Uma dessas filas quase que intermináveis de carros de todas as marcas, onde normalmente cabem dois carros lado a lado cresce e duplica. Os azuis e branco, com dizeres sui generis, apimentam o trânsito com manobras dignas de filmes e buscam andar mais um ou dois metros num ziguezague frenético, usando a zona de estacionamento e por vezes passeios.

A cedência de passagem segue critérios aleatórios: o atrevimento do condutor, o tamanho ou o estado de veículo, a destreza no acelerador. Nesta luta por uma nesga para avançar uns metros, ganhar a dianteira, um cidadão acabar por passar por cima do traço contínuo. Azar do estrangeiro. Foi apenas uma roda, mas o suficiente para ser considerada uma transgressão. Os agentes reguladores do trânsito param-no rapidamente. A multa é voluntária, mas o valor é um bocado alto. Sexta-feira, um fim-de-semana sem "as cartas". Como podemos resolver isto é a frase que se impõe. O que não se quer é confusão.

É fácil. Uma propina de agilização resolve o assunto. Uma mão lava a outra, conforme aprendido na era da pandemia. Mas não tem valores? Simples, o multicaixa é já ali. Com a carta retida e o carro estacionado não há outro remédio senão uma corrida rápida para o levantamento da quantia previamente acorda. Mas é Sexta-feira e outros tantos cidadãos estão na fila para executar as suas operações. Uns têm três cartões de débito, facto de torna a fila vagarosa. Mais um outro engarrafamento.

O agente não quer esperar muito pois o carro parado está a causar outros transtornos rodoviários. Um engarrafamento em catadupa. Sem perder a compostura, o agente regulador informa aos demais que o senhor ali atrás está com uma emergência familiar. Precisa de agilizar o levantamento. Mas tem uma senhora grávida na fila e não tem prioridade?, reclama um cidadão. A mulher deste senhor já está a parir, retorque o agente, garantindo o acesso prioritário para o cidadão.

De uma mão para outra, viaja o contributo voluntário e, no sentido inverso, viajam os documentos. Apenas uma permuta entre duas pessoas feita de livre vontade, nada mais. Uma permuta mutuamente benéfica.

Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Ou não!