As eleições agora terminadas deverão ser para o maioritário um divisor de águas nas suas políticas públicas, no sentido de inverter o actual quadro de dificuldades mil que afectam, de uma ou de outra forma, a maioria dos angolanos, sobretudo os jovens. A derrota em Luanda, defendo, não foi exactamente o reflexo de uma suposta simpatia militante ou ideológica pela UNITA. A maioria da população da capital serviu-se daquele partido para claramente dizer que muita coisa está mal. Não se tratou aqui de um eventual mau trabalho dos cabos eleitorais do MPLA. Por mais que se desdobrasse em campanhas activas, não teria alcançado resultados melhores do que os presentes. Aliás, os actos de massa testemunharam a presença de centenas de milhares de participantes que, na prática, não se traduziram em resultados positivos na urna. A abstenção foi estrondosa. Foi um veemente cartão amarelo ao MPLA.

Posto isto, impõe-se para o partido dos camaradas uma visão globalmente estratégica que dê lugar a uma governação que vá efectivamente ao encontro das aspirações dos angolanos no seu todo. Uma governação com dirigentes comprometidos em servir. Sim, os dirigentes são, acima de tudo, servidores públicos.

Dirigentes profundamente comprometidos com os anseios do povo. Mude-se a postura dos ministros que, em muitos casos ou na maioria, não arregaçam as mangas para ver implementados os projectos dos seus pelouros através de acompanhamentos permanentes e sistemáticos. Mantêm-se fechados em gabinetes para onde se dirigem com batedores e sirenes. Governante tem de acordar cedo para não encontrar engarrafamento. As estradas da Samba e da 21 de Janeiro são bem prova disso. Mude-se a postura dos governadores e administradores municipais que constroem muros em vez de pontes na sua ligação com as populações. Dialogam pouco. Mude-se o comportamento dos gestores das empresas públicas para com o erário. Tem de se quebrar em definitivo a ideia do enriquecimento indevido quando alguém é nomeado para funções no Estado.

Temos um verdadeiro "exército" de desempregados. É comovente ver, todos os dias, nas ruas das principais cidades do País, principalmente de Luanda, milhares de jovens venderem os mais diversos utensílios e quinquilharia, outros tantos mergulhados no alcoolismo, na prostituição e noutras práticas inúteis e nefastas. Impõem-se aqui programas realistas e sustentáveis para alterar tal quadro que potencia o crescimento inevitável da delinquência. Os jovens estão desesperados. É urgente a mudança. Os projectos existentes de empregabilidade devem ser melhorados e a criação de outros que abarquem o maior número de jovens possíveis à extensão do território nacional. Os jovens são a prioridade nacional.

E uma das formas de minorar a elevada taxa de desemprego é justamente atrair o investimento estrangeiro com um ambiente de negócio atractivo, sem elevada carga burocrática e outros expedientes inibidores. Nenhum país, com as especificidades do nosso, cresce sem o investimento estrangeiro. Muitos são os investidores que desistem pura e simplesmente de aportar no nosso território por encontrar barreiras inaceitáveis, impossibilitando, por exemplo, a criação de indústrias capazes de abarcar um elevado número de jovens. O incentivo ao empresariado nacional com políticas de crédito comportáveis, a promoção vigorosa do auto-emprego e o apoio real às micro, pequenas e médias empresas são medidas urgentes.

Outro grande sector que merece um outro olhar é o sector da Agricultura. É verdade que tem havido algum esforço neste sentido, mas é ainda insuficiente para o potencial que o País oferece. Mais apoio à agricultura familiar. Existem milhares e milhares de terras ociosas cujos proprietários não exercem nelas quaisquer actividades. A terra deve ser dada a quem tem capacidade de a tornar produtiva.

O combate à corrupção, uma das principais bandeiras de governação do Presidente João Lourenço, tem de dar mostras de que não está a esmorecer e que não existe selectividade entre os supostos envolvidos nessa prática.

O MPLA ganhou as eleições por mérito próprio e sobre isto não existe a menor dúvida, mas, tendo em conta os resultados alcançados com clara redução de votos, tem de se levar a cabo uma governação diferente, mais dialogante e agregadora.

Por esta razão, estão sobre os ombros do Presidente João Lourenço as mais pesadas responsabilidades da sua vida política na perspectiva de futuramente inverter a tendência negativa que o seu partido tem tido nos últimos pleitos, sobretudo neste último, em que, em Luanda, perdeu a hegemonia. Que no seu novo Executivo sejam escolhidos cidadãos honestos e com elevada capacidade técnica, sendo ou não quadros do seu partido, desde que estejam alinhados com os propósitos elencados!

São enormíssimos os desafios para o MPLA, no sentido de dar mostras de capacidade e criatividade de resolver os ainda enormes problemas que afectam a população angolana. Os angolanos têm direito de usufruir das imensas riquezas de que o País é detentor.
Daí se esperar que o Presidente João Lourenço nos surpreenda com medidas audazes e arrojadas na condução do País nos próximos cinco anos. n

*Jornalista e Politólogo