Esse discurso histórico do Chefe de Estado proferido ao final do dia de quarta-feira, onde João Lourenço endereçou um pedido de desculpas e de perdão às vítimas dos conflitos internos que surgiram após a independência, em 1975, incluindo as do 27 de Maio de 1977, abriu a porta ao líder da Fundação 27 de Maio, Silva Mateus, para estar presente hoje no local onde o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queirós, depositou uma coroa de flores no túmulo do Soldado Desconhecido em memória das vítimas.

Entre as centenas de pessoas que assistiram hoje a este momento, no Cemitério da Santa Ana, estavam, para além dos populares, muitos destes familiares de vítimas das atrocidades cometidas no seguimento da intentona frustrada do 27 de Maio de 1977, representantes dos partidos políticos, incluindo dos três históricos, MPLA, UNITA e FNLA.

Mas a presença mais saliente neste momento, onde o padre que proferiu a homília sublinhou o perdão entre todos os angolanos agora mais fácil pelo perdão pedido por João Lourenço, foi a presença de Silva Mateus, que lidera a Fundação 27 de Maio, uma das mais persistentes na reivindicação de uma solução que conforte os familiares das vítimas, o que passava em grande medida pelo pedido de perdão do Estado angolano.

Numa declaração à Nação a partir do Palácio da Cidade Alta, o Chefe de Estado afirmou que já não é hora de "apontar o dedo uns aos outros procurando culpados" porque agora "importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe".

João Lourenço lembrou o processo que teve início em 2019, com a criação, por despacho Presidencial, da Comissão para a Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos de 1975 a 2002 e que hoje resultou na criação de condições para este "passo importante" que hoje teve lugar e que passou pelo pedido de perdão às vítimas, que era uma das principais reivindicações dos descendentes das vítimas do 27 de Maio de 1977.

"É assim que imbuídos deste espirito, vimos, perante as vitimas destes conflitos e dos angolanos em geral, pedir humildemente em nome do Estado angolano as nossas desculpas publicas e o perdão pelo grande mal que foram as execuções naquela altura e naquelas circunstâncias", disse João Lourenço.

"Este pedido publico de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras, ele reflecte o nosso sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angustia que ao longo destes anos as famílias carregam consigo por falta de informação sobre o destino dado aos seus entes queridos", adiantou.

João Lourenço acrescentou ainda que já na quinta-feira, 27 de Maio, quando passam 44 anos dos trágicos acontecimentos, terá início simbolicamente a entrega das primeiras certidões de óbito *as famílias das vítimas do 27 de Maio de 1977.

Também terá início, juntou o Presidente da República, o início da busca pela localização e posterior entrega às famílias dos restos mortais de algumas das figuras históricas que pereceram nos acontecimentos de há 44 anos, incluindo, entre outros, os restos mortais de Nito Alves, que liderou a intentona frustrada, Monstro Imortal, Sita Valles ou Zé Van Dúnen, bem como os militares da 9ª Brigada, do Destacamento Feminino ou ainda da DISA.