A primeira coisa que eu gostava de saber de si é: 25 anos depois, quais são as grandes conquistas que podemos atribuir à CPLP?

Para já, aquilo que é no final de contas a matriz identitária da CPLP é que estava na génese da sua formação, que é a língua portuguesa. Nunca se falou tanto português no mundo, já é a 4.ª ou 5.ª língua mais falada, com pelo menos 260 milhões de falantes, a 4.ª língua mais utilizada na internet. Temos a língua mais falada no hemisfério sul e é uma língua em franco crescimento. As projecções das Nações Unidas apontam para que, no final do século, possa haver 500 milhões de falantes do português, e isso é muito significativo, e onde se vai dar este crescimento? Será, sobretudo, em África, será aqui em Angola, em Moçambique, onde se prevêem crescimentos demográficos muito significativos, de forma que a CPLP, pelos desígnios iniciais, que é difundir o português, eu penso que está a consegui-lo fazer de uma forma bastante relevante.

Depois, a segunda questão, que também tem funcionado bem na CPLP, é aquilo a que chamamos de concertação político-diplomática, isto é, os blocos CPLP nas organizações internacionais têm actuado de forma coesa e contribuído para a eleição de altos dirigentes para cargos internacionais. O mais recente foi a eleição do próprio engenheiro António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas. Eu recordo que na altura Angola fazia parte do Conselho de Segurança. Digamos que a palavra decisiva para a escolha do secretário-geral das Nações Unidas é precisamente no seio do Conselho de Segurança e, na altura, recordo que Angola forneceu informações muito preciosas sobre o sentido de voto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.

Portanto, na concertação político-diplomática, temos funcionado bem a nível das Nações Unidas, temos funcionado bem a nível da própria UNESCO. A UNESCO instituiu há dois anos, o dia 5 de Maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Acho que isso é uma grande conquista. E também noutras organizações, como as Nações Unidas em Genebra, enfim, a esse nível também a CPLP tem funcionado bem.

Depois temos projectos de cooperação que incidem fundamentalmente nos Estados-Membros da CPLP, temos o nosso "envelope" financeiro, que vive, sobretudo, das contribuições dos Estados-Membros. Não é muito significativo, mas temos projectos em múltiplos sectores de actividade. Portanto, digamos que isso é o que tem funcionado bem na CPLP após 25 anos de existência.

Dentro destes 25 anos, senhor secretário, por parte das comunidades já há o sentimento de pertença?

A sua questão é pertinente. O que nós sentimos aqui, eu senti enquanto diplomata a importância da CPLP, digamos os governantes, as instituições públicas sentem essa importância. O cidadão comum ainda não se apercebeu da importância que pode vir a ter a CPLP para o seu dia-a-dia. O acordo sobre a mobilidade que se vai assinalar no decurso da Cimeira de Luanda, portanto, no próximo sábado (amanhã), é um primeiro passo muito importante para começar a facilitar a circulação de cidadãos. Recordo que nas visitas que fiz enquanto secretário-executivo, e nos contactos que tinha com os estudantes, alunos, a pergunta era quase sempre a mesma, para que serve a CPLP? Diga-nos qualquer coisa de útil que a CPLP tenha feito para o bem-estar dos cidadãos? E, de facto, este acordo de mobilidade pode ser uma primeira porta muito importante que se abre para o cidadão comum percecionar a importância da CPLP.

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