A decisão assumida em Assembleia Geral na quarta-feira não é uma surpresa porque este adiamento era igualmente desejado pelo Governo de Luanda confrontado que está com uma das mais severas crises económicas que o País conheceu desde a sua independência.

Crise esta com origem na quebra acentuada dos rendimentos nacionais na sequência da perda de valor do petróleo, que ainda é o motor da economia nacional.

No entanto, há alguns anos que Angola procurava deixar este indesejado grupo de Países Menos Avançados (PMA) para alcançar o grupo dos Países de Rendimento Médio (PRM), tendo mesmo visto, em 2016, a ONU aprovar uma resolução onde aprovou essa transição, impondo, todavia, ao País, a responsabilidade de traçar um plano sólido para fazer esse caminho.

Esta transição, que agora fica pendurada até 2024, tem alguns contras, como, por exemplo, deixar Angola de estar elegível para determinados programas de apoio de diversas instituições internacionais, importantes em tempos de crise como, por exemplo, aquele que atravessa neste momento.

Neste processo de passagem de estatuto, porém, as Nações Unidas e outros organismos internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, têm previstos mecanismos de apoio técnico, como sucedeu nos últimos países a fazer essa transição, que, nalguns casos, pode ser dura, como sucedeu com Cabo Verde ou ainda o Botsuana.

Esta resolução aprovada agora nas Nações Unidas, denominada "Extensão do Período de Preparação para a Graduação de Angola" permite ao País ter agora mais três anos para se preparar, visto que essa mesma graduação estava na calha para o início de 2021.

Por detrás deste adiamento está a visível fragilidade socioeconómica de Angola, um dos países mais fustigados pela crise que resultou, a partir de 2014, da queda abrupta do valor do barril de petróleo nos mercados internacionais e agudizada com o surgimento da pandemia da Covid-19 no início de 2020, culminando percurso de pelo menos cinco anos de recessão.

Mas para Angola a questão da perda de algumas atenções especiais concedidas aos PMA por parte dos organismos internacionais como o FMI ou o Banco Mundial que vão resultar da passagem para PRM, tem mantido o Executivo de Luanda a procurar uma solução que permita manter o melhor dos dois mundos, a que, por exemplo, em 2027, o então ministro do Comércio Joffre Van-Dúnem, chamou de "transição suave".

Isto, porque, entre outros, a condição de PMA garante condições vantajosas em negociações com algumas instituições para financiamentos específicos para o apoio, por exemplo, à incontornável diversificação da economia nacional, fruto da necessidade de diminuir a dependência das exportações de crude, que ainda representam 94% destas.

O crude é responsável por mais de 94% das exportações angolanas e por mais de 50% do PIB, representando 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.