Oficialmente, Azeredo Lopes chega a Luanda para ver de perto os programas de cooperação de âmbito militar entre Angola e Portugal, constando da agenda pelo menos um encontro com o seu homólogo, Salviano Sequeira, havendo a possibilidade de assinatura de um novo acordo na área da cooperação no sector da Defesa.
Mas o cenário de crise entre Luanda e Lisboa, por causa da acusação judicial que corre em Portugal contra o ex-Presidente Manuel Vicente, não deixará de acompanhar Azeredo Lopes como uma sombra em cada passo que dê.
Isto, porque a questão que se coloca é se esta visita é uma demonstração por parte do Executivo angolano de alguma abertura para que os dois países ultrapassem o actual impasse no caminho a ser feito para ultrapassar a crise diplomática entre Luanda e Lisboa.
Impasse esse que resulta da exigência de Angola, expressa pelo Presidente João Lourenço, em ver o processo de Manuel Vicente transitar para os tribunais angolanos, ao abrigo dos acordos bilaterais e multilaterais - CPLP -, e com Portugal, como o afirmou o primeiro-ministro António Costa, a lembrar que a separação de poderes é efectiva e essa decisão - o transitar do processo de Lisboa para Luanda - não depende do poder político.
Recorde-se que João Lourenço, no início deste ano, deixou claro que as relações bilaterais iriam depender do desfecho deste caso que envolve Manuel Vicente e tinha, aquando da sua tomada de posse, em Setembro de 2017, deixado um pesado recado a Portugal, ao não referir o nome do país entre aqueles com quem Angola tinha intenções de aprofundar as relações bilaterais de forma prioritária.
O seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, estava entre os convidados e sentiu o toque, percebendo-se isso quando, depois, questionado pelos jornalistas, defendeu que os Governos devem ter em conta os desejos dos povos e os povos angolano e português querem estar juntos, competindo aos seus Governos proceder de forma a cumprir esse desejo.
No entanto, algumas semanas depois de João Lourenço ter feito depender deste caso a evolução das relações bilaterais, coincidência ou não, a justiça portuguesa optou por proceder à separação de processos, retirando o que envolve Manuel Vicente do âmbito do que corre por conta da denominada Operação Fizz.
O caso Fizz envolve diversas personalidades portuguesas e angolanas a contas com acusações de diversas ilegalidades, desde corrupção a falsificação de documentos e branqueamento de capitais, crimes igualmente imputados pelo Ministério Público luso ao ex-Presidente angolano.
Agora, com esta visita do ministro da Defesa Nacional português, Azeredo Lopes, a primeira desde que a programada visita do primeiro-ministro português foi cancelada em meados do ano passado e da visita prevista da ministra da Justiça portuguesa ter sido igualmente posta de lado, Angola poderá, como tem sido admitido nalguma imprensa portuguesa e angolana, estar a mostrar sinais de boa vontade, esperando o passo seguinte de Lisboa, que seria enviar o processo de Manuel Vicente para os tribunais angolanos.