Durante a cerimónia, que decorreu no Sábado e contou com a presença de vários líderes religiosos e do aparelho do Estado, foram eleitos como vice-presidente, Pedro da Ressurreição Garcia, bem como o secretário-geral, vogais e a mesa do Conselho Consultivo.

Com a eleição dos novos responsáveis, dá-se fim a comissão de reforma em função desde Novembro de 2020, dando lugar aos novos membros dos órgãos sociais da IURD Angola, bem como a alteração dos estatutos desta instituição religiosa.

Valente Bizzera Luís avançou que a nova liderança da igreja vai aprofundar a implementação de programas sociais em beneficio das comunidades, especificamente a educação, formação académica e profissional.

Para o efeito, Valente Bizzera Luís pediu a colaboração da sociedade para que a igreja possa erguer uma estrutura a nível dos recursos humanos e estruturas físicas para suportar e acolher os programas.

A IURD Angola está mergulhada numa crise profunda desde Junho de 2019, altura em que pastores e bispos se envolveram numa intensa troca de acusações e agressões físicas. Desde a ocorrência registada em diversas províncias do país, a comissão de reforma criada em 24 de Junho de 2020 assumiu o controlo de dezenas de templos.

Na altura em que se deu o primeiro sinal da crise, 320 pastores e bispos acusaram os ex-parceiros brasileiros de várias irregularidades e, a partir daí, a situação degenerou num braço-de-ferro pela liderança da IURD no país.

O novo líder da IURD Angola referiu que os dias turbulentos, que espera serem ultrapassados com a eleição dos membros da nova direcção, devem servir, por um lado, de motivação para a reconciliação entre os filhos da Universal, por outro lado, continuar com o processo de reforma da igreja.

Conforme o religioso, a liberdade de pensamento e de expressão, o respeito pela dignidade da pessoa humana, a fé, a verdade, a misericórdia e a justiça devem ser os fundamentos das acções dos membros da igreja.

Para Valente Bizzerra Luís, é importante que a igreja continue a cumprir o seu papel espiritual e social, numa dimensão mais profunda, designadamente, na vertente espiritual e levar o evangelho genuíno as comunidades, sem materialismo e imediatismo.

Reposição da legalidade

Desde Setembro de 2020 que o património da IURD Angola está sob gestão do Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), devido ao desentendimento entre os pastores angolanos e brasileiro que são acusados (os últimos) de lavagem de dinheiro, fraude fiscal e associação criminosa.

A propósito, o assessor jurídico do caso IURD Angola, David Mendes, afirma que, com a cessação de funções do grupo transitório (comissão de reforma) e a eleição da nova direcção, estão criadas as condições legais para o Ministério Público proceder a devolução e reabertura dos templos encerrados em função da crise.

"É preciso separar aqui duas coisas: a igreja não comete crime enquanto instituição, mas sim os membros da igreja que devem ser criminalmente responsabilizados", referiu.

Para o jurista, não há nada que interdite o exercício da actividade religiosa em Angola, razão pela qual os membros da IURD Angola podem exercer esse direito, tendo os templos de volta.

Em relação aos outros bens mobiliários e imobiliários, David Mendes referiu que é de direito da IURD Angola, devendo ser ela a geri-los.

Contornos da crise

A crise na IURD em Angola resulta de profundas divergências entre pastores e bispos angolanos e brasileiros sobre a gestão dessa instituição, com queixas de humilhações, injustiças e discriminação apresentadas por angolanos.

Instalado a 28 de Novembro de 2019, com a divulgação de um manifesto crítico à direcção da igreja no Brasil, o conflito agudizou-se em Junho de 2020, quando pastores e bispos se envolveram numa intensa troca de acusações e agressões físicas.

Desde a ocorrência, registada em diversas províncias do país, a Comissão de Gestão assumiu o controlo de dezenas de templos.

Na altura em que se deu o primeiro sinal da crise, 320 pastores e bispos acusaram os ex-parceiros brasileiros de várias irregularidades e, a partir daí, a situação degenerou num braço-de-ferro pela liderança da IURD no país.

Dos principais factores do conflito saltam à vista, segundo o manifesto, a exigência da prática da vasectomia aos pastores angolanos, abortos forçados, racismo, alienação de mais de metade do património da igreja, branqueamento de capitais, e evasão de divisas para o exterior.

O manifesto denuncia ainda a falsificação da acta de eleição de órgãos sociais da IURD, a emissão de procurações com plenos poderes a cidadãos brasileiros para exercer actos reservados à assembleia-geral.

Constam ainda das acusações a proibição às mulheres de pastores de terem acesso à formação académico-científica e técnico-profissional, irregularidades no pagamento da segurança social e falta de projecto de desenvolvimento pastoral em formação teológica específica.