O co-réu nega ter transformado o GRECIMA em casa de câmbio e lamentou o facto de hoje estar a sentar-se no banco dos réus porque "se soubesse que estaria nesta posição nunca cumpriria nenhuma missão".

Hilário Gaspar Santos relevou esta terça-feira, no segundo e último dia da sua audição, que foi ideia sua a aquisição de divisas do GRECIMA ao Banco Nacional de Angola (BNA) e que também instruiu Manuel Rabelais sobre o assunto, mas que tudo foi feito nas leis do banco central e que também foi ele quem procurava clientes para compra de divisas no GRECIMA.

O réu disse aos juízes do Tribunal Supremo que angariava clientes com ajuda de um amigo seu de nacionalidade belga e que a taxa de juro era a mesma do BNA, mas que eles apenas acrescentavam quatro porcento e que estas percentagens ficavam nas contas do GRECIMA e que nunca o fez para benefício pessoal.

Durante o seu interrogatório, Hilário Gaspar Santos negou qualquer culpabilidade nas suas funções de ex-assistente administrativo de Manuel Rabelais e insistiu por diversas vezes para que as questões lhe dirigiam fossem respondidas pelo "próprio Manuel Rabelais".

Questionado se alguma vez transferiu valores para os filhos de Manuel Rabelais no exterior, respondeu que não, mas assegurou ter conhecimento que de facto houve essa transferência.

Hilário Gaspar Santos reiterou que várias vezes pagou a jornalistas estrangeiros, sobre tudo repórter da Euronews, para falarem bem de Angola, mas que tudo era no âmbito das operações secretas. E já tinha afirmado igualmente que foram feitos pagamentos a jornalistas portugueses para silenciar notícias negativas para Angola.

Questionado se tinham uma licença do BNA que os autorizava a vender divisas, justificou que não, argumentando que não praticaram um acto ilegal e garantiu que nunca transformou o extinto Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração numa casa de câmbio, como refere a acusação.

O réu disse também que nunca recebeu nenhuma instrução nem nunca esteve com o ex-Presidente da Republica, José Eduardo dos Santos, para abordar situações do GRECIMA.

Manuel Rabelais foi severamente advertido por dar palpites ao réu Hilário Gaspar Santos

O ex- director do extinto Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração, Manuel António Rabelais, esteve muito perto de ser hoje conduzido à cadeia por três dias, por perturbação da ordem no tribunal durante a sessão de julgamento.

É que o réu Manuel António Rabelais acompanhou na sala o interrogatório do amigo e colaborador Hilário Gaspar Santos e começou a dar alguns palpites ao mesmo para a sua defesa.

O representante do Ministério Público ao ver esse comportamento do antigo Ministro da Comunicação Social e director do GRECIMA avisou de imediato o juiz presidente da causa Daniel Modesto que, de seguida, o reprendeu.

"Se o senhor voltar a fazer isso irei mandá-lo de imediato para a prisão por três dias sem necessidade de processo", disse o venerando juiz visivelmente irritado e alertou: "Não volte a fazer isso".

No final da audiência, o réu Manuel Rabelais, em jeito de arrependimento pelo seu mau comportamento na sessão desta terça-feira, pediu desculpas ao tribunal e aos representantes do Ministério Público, desculpas essas que foram aceites pelo juiz Daniel Modesto, mas que não se cansou de o alertar: "Fica pela última vez. Da próxima irá para a cadeia por três dias".

O tribunal terminou assim com os interrogatórios aos réus, Manuel Rabelais e Hilário Gaspar Santos, e nesta quarta-feira,10, serão ouvidos os primeiros três declarantes, de cuja lista consta o ex-governador do BNA.