Aos juízes, o bispo assegurou que a IURD não é uma igreja criminosa "apesar de ter bispos e pastores que não são boas pessoas".

Sobre a situação da prática de vasectomia na igreja, o bispo da ala angolana disse que os pastores que a faziam não eram obrigados, mas recebiam um tratamento menos bom dos líderes em relação aos que faziam.

Valente Bizerra Luís, explicou ao tribunal que chegou a ser processado por um dos fiéis da IURD por convencê-lo a realizar a vasectomia, coisa que agora não aconselha ninguém a fazer, desculpando-se e dizendo que apenas aconselhava os pastores a fazerem-na por ser doutrina da igreja.

Interrogado se a IURD arrecadava muitas receitas, respondeu que sim, afirmando que só a Catedral do Maculusso, em Luanda, arrecadava mensalmente 245 milhões de kwanzas, para além de outras ofertas.

A responsabilidade das receitas da igreja, afirmou quando questionado pelo colectivo de juízes, era do líder espiritual, o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves.

Segundo Valente Bezerra Luís, o cargo que ocupou na IURD - de vice-presidente conselho de direcção - era meramente fictício, pois não tinha poder de decisão em nada.

Indagado se havia um tratamento diferente das receitas obtidas na igreja, respondeu que sim e esclareceu que os pastores apenas tinham de depositar nos bancos comerciais um pequeno volume em kwanzas e que as divisas eram depositadas no condomínio da igreja por um grupo restrito de pastores.

Valente Bezerra Luís declarou ter deixado de fazer parte da direcção da IURD em 2019, depois de ele e outros pastores apresentarem o manifesto pastoral que desencadeou os conflitos internos na Igreja Universal do Reino de Deus em Angola.

O bispo salientou em tribunal que quando estava na direcção da igreja teve conhecimento que muitos pastores angolanos e brasileiros levavam para o exterior, de forma dissimulada, avultadas somas em divisas.

Questionado sobre quais eram os destinos dados a esses valores, Valente Bezerra Luís não soube dizer.

Quanto à famosa "Fogueira Santa", o antigo vice-presidente do conselho de direcção da IURD em Angola e actual líder da ala angolana disse que a mesma visa apenas a salvação das almas e dar bênçãos aos crentes, tal como assegurou no seu depoimento o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves.

Sobre a finalidade das doações da "fogueira santa", respondeu que "a princípio era a de abençoar as pessoas", mas que notou depois que "muitos pastores extorquiam os fiéis e davam outros destinos às ofertas".

Indagado pelo juiz principal, tutri António, sobre o porquê de não ter denunciado antes essas práticas, Valente Bezerra Luís respondeu que "muitos pastores, na altura, denunciaram, sim, mas infelizmente a justiça nada fazia e os líderes da igreja gabavam-se que podiam queixar-se onde quisessem que nada lhes acontecia".

Valente Bizerra Luís enalteceu em tribunal o programa de combate à corrupção levado a cabo pelo Executivo do Presidente João Lourenço chegando ao ponto de se emocionar e chorar na sala de julgamento, mas o juiz tutri António repreendeu-o, avisando que o tribunal não é lugar para discursos políticos.

"Senhor bispo Valente Bezerra Luís, isso é discurso político e não vamos entrar por aí", advertiu o Juiz principal da causa.

As sessões de quarta e quinta-feira ficaram marcadas pela ausência do advogado da parte queixosa, David Mendes.

Quem também está ausente das sessões de julgamento é o bispo brasileiro, Honorilton Goncalves, ex-líder espiritual da IURD em Angola e Moçambique, que se encontra no Brasil onde passou a quadra festiva.

O tribunal vai ouvir esta sexta-feira,14, outros pastores da ala angolana arrolados como declarantes no processo.

São arguidos neste julgamento os bispos e pastores Honorilton Gonçalves, António Miguel Ferraz, Belo Kifua e Fernando Henriques Teixeira, todos acusados dos crimes de associação de malfeitores, evasão de divisas, branqueamento de capitais e violência doméstica.