Sem conseguirem resolver o problema do regresso através do consulado de Portugal em Luanda ou da TAP, muitos dos portugueses que ficaram retidos em Angola depois de o país fechar fronteiras em 20 de Março, recorreram aos seus próprios meios para encontrar um voo, contactando directamente agências de viagens em Portugal.

Carla Tenrinho, que parte acompanhada dos filhos, por sentir "mais segurança" em Portugal, queixou-se das dificuldades e do elevado preço dos bilhetes.

"Estamos há duas semanas a tentar viajar, o consulado não funciona", criticou, explicando que se inscreveu com a família numa lista, mas só conseguiu o voo por intermédio de uma agência de viagens com um custo "três vezes superior ao normal".

A portuguesa acrescentou: "Todos os dias tentámos a TAP e não obtivemos resposta".

"Não sei verdadeiramente se o consulado aqui existe", disse com ironia João Carmo, outro dos 285 passageiros que embarcaram hoje num dos dois voos disponibilizados pela TAP.

O português que trabalha em Angola há oito anos relatou a odisseia por que passou para conseguir o desejado bilhete.

"Não vale a pena mandar "mails", não há nenhuma resposta. Mandamos "mails" para nos inscrevermos, dirigimo-nos à TAP porque o consulado assim disse e, simplesmente, as listas que lá estão não têm os nossos nomes, é muito estranho", afirmou à Lusa.

João Carmo conseguiu arranjar voo através de uma agência de viagens, após estabelecer alguns contactos, e foi com surpresa que viu a confirmação às 05:20 de hoje.

"Já tinha tentado nas listas do consulado, nas listas da TAP, dirigi-me à TAP, com um voo que tinha para dia 24 de Março - e houve um voo no dia 24 de Março. Primeiro, disseram-me para ir ao aeroporto fazer o "check in', depois disseram que não valia a pena porque era um voo extra. Uma confusão total", desabafou.

Há quem se irrite com as listas e questione a forma como foram elaboradas, como Daniel Santos, que estava em viagem de negócios e também tinha voo de regresso para Lisboa, mas foi cancelado devido ao fecho de fronteiras.

"Até achei que havia algum controlo por parte do consulado, mas percebi que havia várias listas, que se calhar até tinham algum critério, mas ninguém sabia. Comecei a perceber que havia várias listas por que havia diferentes níveis de contactos com as diferentes pessoas e aí senti-me preterido. Houve três voos que saíram e eu nem soube que tinham saído. Como é que isto é possível?", questionou.

Mostrou-se revoltado com a forma como o consulado tratou os portugueses, sublinhando que foi dada toda a informação pedida sem que tenha tido qualquer tipo de retorno: "Isto não é minimamente correcto".

Daniel Santos sentiu "que havia jogadas, interesses" e reforçou que não obteve resposta aos seus email e, "por telefone, era impossível".

Acabou por conseguir um voo através de uma das várias agências de viagens com que contactou.

"Estou a sair por causa do meu filho, não é seguro para ele", justificou Catarina Sousa, empresária em Angola, que se vai juntar aos pais em Portugal.

Confirmando que "foi difícil conseguir o bilhete" porque há uma "enorme lista de espera", admitiu que está também preocupada com a situação em Portugal: "Vai-se prolongar, vai demorar meses e estamos todos a sofrer com esta situação".

Quanto à empresa, neste momento está parada devido ao estado de emergência declarado pelo Governo para combater a propagação da epidemia. "Vamos ver até quando", disse.

Pedro Miguel também descreveu uma verdadeira luta por um lugar neste avião: "Fomos obrigados a colocar-nos em situação de risco, só conseguimos hoje de manhã, tivemos de ir bater na porta da TAP, mesmo estando encerrada".

Segundo contou, na terça-feira, cerca de uma centena de portugueses concentraram-se junto ao escritório da transportadora em Luanda.

"Sentimo-nos abandonados, estamos há mais de 10 dias sem informação consular sobre os voos e a única maneira de sabermos foi através dos meios de comunicação social", censurou.