Os dados são dos consulados de Angola nas cidades portuguesas de Lisboa e Porto e foram compilados pelos Observatório da Emigração, um organismo do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES IUL) que se dedica a recolher e analisar dados sobre os fluxos migratórios entre Portugal e o mundo.

A análise a estes número permite perceber de imediato que existe um relacionamento estreito entre a procura de Angola pela força de trabalho portuguesa e o início da crise em Angola, com a queda abrupta do preço do barril de petróleo em meados de 2014.

O petróleo acabou por chegar aos 29 USD em Fevereiro de 2016, gerando uma forte crise, que ainda hoje se sente de forma significativa, depois de ter batido um recorde absoluto em Junho de 2008, quando chegou aos 147 dólares, dando início a um período de forte pujança da economia nacional e, coincidentemente, com a chegada ao país de dezenas de milhares de imigrantes portugueses, especialmente com o "boom" no sector da construção civil.

Os números agora divulgados pelo CIES IUL dizem que em 2018 entraram em Angola 1.910 portugueses com contrato de trabalho, quando no ano anterior em 2017, foram 2.962.

Segundo se pode constatar, a queda tem sido brusca desde 2015, no que diz respeito à chegada a Angola de trabalhadores portugueses, com 42% em 2016, 24% em 2017 e 36% em 2018.

Não existem números concretos sobre quantos portugueses residem hoje em Angola por razões económicas, trabalho, mas números publicados pela imprensa portuguesa referentes aos anos de 2009, 2010, apontavam para perto de 200 mil cidadãos lusos a trabalhar em Angola, sem contar com os com dupla nacionalidade.

Com o aprofundar da crise, logo a meio de 2014, os dados existentes apontam para que mais de um terço dos portugueses a trabalhar em Angola tenha, durante o ano de 2018, deixado o país, como foi anunciado aquando da visita a Luanda do primeiro-ministro português, António Costa, tendo, desde então, continuado a aprofundar-se essa sangria.

As dificuldades sentidas pelas empresas portuguesas para receber dívidas em atraso do Estado angolano e a transferir os lucros foram razões cimeiras para a debandada, com os obstáculos sentidos na remessa dos salários a contribuírem igualmente para o êxodo.

De acordo dados do Observatório da Emigração, em 2017, os números oficiais apontavam então para 126 mil portugueses a residirem em Angola, incluindo aqueles que são filhos de portugueses ou que vivem desde sempre no País. Mas em 2006 eram "apenas" cerca de 53 mil.

Face a esta realidade, a melhor forma de aferir quantos portugueses estavam em Angola antes da crise de 2014 são os inscritos nos consulados como tendo nascido em Portugal e esses eram apenas 39 mil, divulgou o CIES IUL em 2017.

No entanto, como as autoridades portuguesas chegaram a admitir, a maioria dos portugueses em Angola, durante os anos de maior procura do país para trabalhar, que coincidiu com a crise económica que atingiu Portugal - entre 2009 e 2011 - não se inscreviam nos consulados por falta dessa cultura de cidadania.