«Por não se registar até agora a intervenção da Polícia Marítima, alguns pescadores pensam em adquirir armas de guerra para se protegerem dos assaltantes, soube o Novo Jornal junto da Cooperativa dos Jovens Empreendedores da Barra do Bengo.

Apesar de ser o primeiro caso em que se fala de mortes, as ondas de assaltos nos mares do País, em particular da província de Luanda, têm sido recorrentes e os pescadores acusam as autoridades de nada fazerem para travar os ataques em alto mar.

Ao Novo Jornal, João Garcia, presidente da Cooperativa dos Jovens Empreendedores da Barra do Bengo, contou que duas pessoas perderam a vida no último assalto, que ocorreu a semana passada na praia de Cacuaco.

"Eram três pescadores que viajavam numa embarcação e dois foram alvejadas com tiros de AKM. O que muito temíamos aconteceu. Infelizmente os corpos até agora não apareceram, mas o barco apareceu no dia seguinte, na costa, cheio de sangue", lamentou o presidente da cooperativa, assegurando que "pelo relato do sobrevivente, e pela quantidade de sangue encontrado no barco, presume-se que estejam mortos".

João Garcia frisa que nunca antes houve relatos de disparos à queima-roupa, mas salienta ser uma questão que muitos receavam acontecer.

"Eles vão ao mar como se fossem pescadores, mas a intensão é roubarem motores e embarcações de fibras para além do peixe", explicou.

Um motor custa, prosseguiu o responsável da cooperativa, 3,5 milhões kwanzas, a embarcação custa seis milhões e temos casos em que levam as redes.

Segundo o responsável, até o número de assaltos é maior nos últimos meses e estes têm sido recorrentes, o que se torna assustador.

"Em muitos casos, os pescadores são abandonados em alto mar e com sorte têm sido resgatados por colegas solidários".

João Garcia salientou que o assunto foi reportado à Capitania de Luanda e ao comando-geral da Polícia Nacional, bem como aos ministérios do Interior, da Defesa Nacional e Governo da Província de Luanda, mas até agora nunca viram melhorias.

"Até hoje não temos qualquer informação. Mas a situação continua a agravar-se e agora temos esse caso de mortes. Afinal, quantas pessoas mais têm de morrer para as autoridades verem que precisamos de socorro", explicou.

O responsável da Cooperativa dos Jovens Empreendedores da Barra do Bengo, assegurou ao Novo Jornal que por falta de protecção muitos pescadores já não querem fazer-se ao mar e relevou que muitos pescadores estão a adquirir armas de guerras para se defenderem dos marginais em alto mar.

"Outros estão a comprar armas para levarem para o mar porque não têm protecção das autoridades. Essa é a única solução que estão a encontrar", denunciou.

Sobre este assunto o Novo Jornal tentou sem sucesso ouvir declarações da Polícia Nacional em Luanda.

De recordar que no ano passado, o presidente da Associação da Pesca Artesanal, Semi-industrial e Industrial de Luanda, Manuel Bernardo Azevedo, também se mostrou preocupado com os assaltos sofridos pelos pescadores em pleno alto mar e com recurso a armas de fogo.

Manuel Azevedo disse na ocasião que os meliantes têm desmontado os motores dos barcos e levam o peixe.

O Novo Jornal apurou junto destas instituições de pesca que em Luanda, desde Agosto de 2021, mais de 20 motores e diversas quantidades de peixe foram roubadas em alto mar.