O homem que, entre muitos outros, esteve na linha da frente da Revolução dos Cravos, elaborando o plano de operações militares daquele momento histórico, morreu hoje, Domingo, 25 de Julho, em Lisboa, no Hospital Militar.

Otelo Saraiva de Carvalho nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique, a 31 de Agosto de 1936.

A notícia foi hoje avançada pela imprensa portuguesa, inicialmente pela rádio TSF e depois confirmada por vários media daquele país europeu.

Otelo foi o homem que esteve na origem do plano que permitiu ao Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubar a ditadura fascista de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, abrindo caminho para a democracia em Portugal e, dessa forma, acelerando o processo das independências das ex-colónias portuguesas em África.

O seu papel na Revolução de 25 de Abril de 1974 foi, essencialmente, o de estratega e o seu sucesso no desenho do plano libertador foi imediatamente reconhecido, passando, então, a ser um dos rostos cimeiros daquela que ficou conhecida em todo o mundo como a Revolução dos Cravos, que se distingou de outras pela forma pacífica, quase sem derramamento de sangue, como foi conduzida pelos Capitães de Abril.

A sua condição de "herói" não é consensual na sociedade portuguesa, especialmente porque, na década de 1980, Otelo Saraiva de Carvalho esteve ligado, tendo sido detido e cumprido tempo de prisão por isso, ao grupo terrorista FP 25 de Abril, embora o próprio nunca tenha assumido essa ligação e nunca tenha sido apresentada uma prova inequívoca dessa ligação.

Uma boa parte dos militares que estiveram à frente do MFA fizeram parte da sua carreira em missões no então denominado ultramar, onde o regime fascista do Estado Novo procurou prolongar a ocupação colonial através de uma guerra contra os movimentos independentistas que durou de 1961 a 1974.

Alguns historiadores defendem que foi a injusta guerra nas três frentes mais importantes, em África, Guiné, Angola e Moçambique, que teve o papel decisivo, mesmo que não o único, na formação da vontade entre estes militares para acabarem com o regime fascista em Lisboa.