Na apresentação do relatório, onde se lê que "a combustão de combustíveis fósseis está a matar-nos" e que o impacto da poluição atmosférica provoca pelo menos "13 mortes por minuto" em todo o mundo e é sentido "de forma desproporcional pelos mais vulneráveis", a directora do departamento da OMS para o Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde, Maria Neira, afirmou que as alterações climáticas são "a maior ameaça à saúde da Humanidade", apelando aos governos para saírem da pandemia de uma forma "saudável e verde".

Durante a apresentação do relatório lançado hoje pela OMS em antecipação da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, Maria Neira destacou igualmente que reduzir a poluição atmosférica para os níveis recomendados pela OMS evitaria "80 por cento" das cerca de sete milhões de mortes provocadas todos os anos pelos efeitos da poluição atmosférica.

"A saúde será a motivação para acelerar e para fazer mais para combater as alterações climáticas, que afectam os pilares da saúde: alimentação, água e qualidade do ar", declarou.

"Talvez esta seja a altura de uma COP da Saúde. É isso que queremos. Qualquer que seja o investimento financeiro necessário, compensará pelos benefícios que trará. Não há desculpas", expôs Maria Neira.

Proteger a saúde humana das consequências das alterações climáticas, sustenta a OMS, exige transformações em sectores como o energético, alimentar e financeiro.

O director-geral da organização, Tedros Ghebreyesus, argumentou que "as mesmas escolhas insustentáveis que estão a matar o planeta também estão a matar pessoas".

Os apelos da OMS são subscritos por 300 organizações que representam pelo menos 45 milhões de médicos e outros profissionais de saúde numa carta aberta igualmente divulgada hoje.

Os profissionais signatários desta carta aberta formam mais de dois terços de todos os trabalhadores do sector a nível mundial.

"Onde quer que estejamos, nos nossos hospitais, clínicas e comunidades no mundo inteiro, já estamos a ter que responder aos malefícios para a saúde causados pelas alterações climáticas", propaga a carta aberta.

Globalmente, a OMS estima que "mais de 90% dos seres humanos respiram níveis nocivos para a saúde de poluição atmosférica".

Outra mudança, no sector alimentar, no sentido de regimes alimentares mais "nutritivos e à base de vegetais" poderia reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera e "evitar até 5,1 milhões de mortes relacionadas com a alimentação até 2050", defende a OMS, que considera que os próprios sistemas de saúde e as instalações em que funcionam precisam também de ser sustentáveis.

A organização recomenda que nas cidades sejam criadas mais condições para "andar, andar de bicicleta e usar transportes públicos".

Os apelos da OMS incluem igualmente a conservação e a reparação dos ambientes naturais e dos ecossistemas e a orientação dos investimentos na recuperação pós-pandemia para actividades que não sejam prejudiciais ao ambiente.

"Esta COP tem que ser especial na sua ambição, nas soluções, nas acções e intervenções propostas, e na rapidez com que são aplicadas", reforçou Maria Neira.