Entre a densidade de uma vegetação que "esconde", à primeira vista, perigos iminentes de cobras e mosquitos, a vida na aldeia de Bimbe, município do Chinguar, no Bié, tem sido um martírio, conforme relato dos próprios moradores ao Novo Jornal. Com quase mil habitantes, na aldeia falta quase tudo, desde serviços básicos de saúde a escolas condignas, numa vasta lista de carências em que se inclui a falta de água potável, infra-estruturas rodoviárias, para não falar da energia eléctrica, que nem sequer "entra" nos sonhos do mais optimista dos moradores dessa aldeia que fica a 120 quilómetros do Kuito, a capital.

Por exemplo, Francisco Sapalo, de 70 anos, encontra-se acamado há mais de seis meses, devido a uma anemia severa e aguda. Com a barriga inchada, pernas inflamadas, sem forças de se pôr em pé e deitado num colchão já velho, o ancião compensa a fragilidade da voz com a agilidade do pensamento, tal é segurança da expressão com que recebe as perguntas do repórter. Não lhe caem as lágrimas, mas não é difícil adivinhar que chora, ainda que por dentro, por assistência médica e medicamentosa, que só se pode encontrar na sede municipal do Chinguar, que fica há 45 quilómetros do Bimbe.

"Não temos hospital na aldeia. O único que nos tem atendido fica na sede do município. E a estrada para se chegar lá está péssima, muitos buracos e muito capim, parece uma mata", lamenta Francisco.

Moribundo e com uma voz trémula, não tanto devido ao peso da idade, mas, sim, às profundas debilidades resultantes da doença que o assola, o ancião, pai de três filhas e viúvo há mais de dois anos, realiza todas as necessidades fisiológicas (urinar e defecar) dentro de casa, num bidão cortado. Para se alimentar e deitar o penico improvisado, Francisco Sapalo conta com a ajuda das filhas e a solidariedade dos vizinhos, o que considera "vergonhoso".

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