Nasceu em Malanje em 1984 e cresceu em Luanda, onde cursou Jornalismo e deu os primeiros passos na profissão. Fale-nos da sua trajectória profissional até chegar aos Estados Unidos da América (EUA).

Quando ingressei no IMEL para estudar Jornalismo, não tinha ainda muito interesse no curso, mas, com o tempo, passei a gostar e cada vez mais a querer aprender. À medida que fui aprendendo, surgiu, naturalmente, a vontade em querer pôr em prática o que ia aprendendo, e assim foi. Por iniciativa própria, contactei vários jornais. Lembro-me de que a minha irmã mais velha me levou, em 2002/2003, para o Jornal de Angola - cujo director, na altura, era o senhor Luís Fernando (actual director de Comunicação Institucional do Presidente) -, a fim de ver se eu conseguisse um estágio, o que, infelizmente, não aconteceu. Só depois de ter concluído o curso no IMEL, e continuando na busca de uma oportunidade, é que, finalmente, acabei por conseguir um estágio no jornal Folha 8, em 2003. Para mim, foi nesta altura em que as coisas começaram a fazer mais sentido, porque aí tive a oportunidade de começar a pôr em prática o que aprendi e a ganhar experiência. Eu tinha, na altura, 18 anos. Comecei a escrever para o jornal Folha 8 em Janeiro de 2003. Aproveito, desde já, a oportunidade para deixar aqui o meu reconhecimento ao jornalista William Tonet, por ter sido um dos poucos que entenderam a necessidade de se dar oportunidade aos futuros jornalistas.

Então, como chega aos EUA?

Em 2006, numa altura em que trabalhava para o Angolense, criei um projecto que visava homenagear as mulheres angolanas que ocupavam cargos de destaque no País. Fiz uma lista, creio que de 10 mulheres, que seriam entrevistadas por mim para falar das suas experiências nos respectivos cargos, os desafios e como mais mulheres podiam chegar a estes patamares. Uma dessas mulheres, e que cheguei a entrevistar, foi a embaixadora de Angola nos EUA, na altura a senhora Josefina Pitra Diakité. Estando nos EUA para entrevistá-la, em 2006 tomei conhecimento de que a embaixada estava a recrutar algum pessoal, aproveitei, então, a oportunidade para dar entrada do meu processo de candidatura para trabalhar na área de imprensa. De regresso a Angola, um ano depois fui informada pela adida administrativa de que tinha sido admitida, pelo que fui contratada, tendo então voltado aos EUA em Junho de 2007. Iniciei as minhas funções, tendo trabalhado durante nove anos na embaixada, em Washington, e em diferentes departamentos.

Foi fácil a adaptação, tendo em conta a diferença cultural, social, económica e política entre Angola e os EUA?

Sim, foi fácil! Levou-me algum tempo para adaptar-me, por causa da língua, e habituar-me ao clima. Mas não foi difícil.

Em 2012, criou um programa de TV nos EUA para promover a imagem de Angola. O projecto parou?

Não! O projecto continua até hoje, contudo, actualmente, não só promovemos a imagem de Angola, que tem sido o nosso foco, mas também a do continente africano, em geral. Este é um projecto que, ao longo dos anos, foi evoluindo, mas que mantém os seus objectivos, um dos quais tem sido pôr os africanos a contar as suas próprias histórias e a mostrar o outro lado dos países do continente berço que os americanos desconhecem.

Quando e como se torna correspondente da TPA?

Comecei a trabalhar para a TPA no final de 2018, depois de ter sido correspondente da TV Zimbo durante dois anos. A TPA foi-me solicitando trabalhos e, em 2019, oficializámos a relação, e com maior frequência passei a enviar trabalhos e a fazer cobertura de eventos importantes que ocorressem no território norte-americano, como a Assembleia-Geral das Nações Unidas, reuniões do Banco Mundial e FMI, visitas de delegações angolanas aos EUA, entre outros.

Em Março de 2021, recebeu do Gabinete de Imprensa da Casa Branca o famoso Hard Pass, um passe definitivo que lhe permite maior acesso à Casa Branca. O mesmo ocorreu ao Senado americano e ao Pentágono, após passar por um rigoroso processo de avaliação junto dos serviços secretos norte-americanos, sendo hoje a única jornalista africana com esse privilégio. Como foi conseguir o Hard Pass?

Foi simplesmente a nossa persistência, o nosso compromisso sério com o trabalho, a nossa dedicação e rigor profissional. Muito embora não tenhamos as mesmas condições em termos de remuneração, equipamentos e condições de trabalho como grande parte dos profissionais que estão acreditados na Casa Branca, temos os mesmos objectivos, que é o de manter o nosso público informado, e demonstramos ter a mesma capacidade profissional. Isso pesou ao longo do período de avaliação, que iniciou durante um período difícil para muitos jornalistas que cobriam a Casa Branca, que foi o da Administração Trump. Actualmente, com a Administração Biden, as coisas estão mais flexíveis e hoje já temos mais dois africanos com o Hard Pass. Assim, o nosso team de africanos a velarem pelos interesses de informação para África na Casa Branca vai crescendo. Deixe-me clarificar que o Hard Pass apenas dá maior acesso à Casa Branca e não ao Senado, ao Pentágono e ao Departamento de Estado. Cada instituição tem os critérios e requisitos para acreditar os jornalistas, e tive de passar por cada um deles separadamente, para obter os referidos passes.

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