O carnaval de Veneza, que todos os anos leva milhares de turistas de todo o mundo a esta cidade do norte de Itália, foi cancelado para os seus dois últimos dias, hoje e amanhã, numa tentativa das autoridades italianas conterem a progressão da epidemia no país que se tornou a maior preocupação na Europa.

Num cenário de pânico crescente, o norte de Itália é palco de medidas de grande impacto, que se começam a parecer com as que as autoridades chinesas assumiram no mês de Janeiro, com quarentenas violentas que obrigaram ao encerramento total de cidades com milhões de habitantes, como foi o caso de Wuhan, na província de Hubei, com 11 milhões de pessoas a viver ali.

Em algumas cidades italianas, como nas regiões da Lombardia, com Milão como capital, e de Veneto, esta última tem como capital Veneza, as movimentações de pessoas foram substancialmente limitadas, cancelando, ou limitando, abruptamente, os festejos do carnaval e as pessoas, como se pode ver nas permanentes reportagens passadas nas televisões de todo o mundo, assumem que estão assustadas, evitando ficar na rua mais tempo que o estritamente necessário.

Também em Milão os efeitos da psicose do Covid-19 se começaram a fazer sentir de forma severa com a anulação da maior parte das actividades da mundialmente conhecida cidade da moda, as escolas fecharam e os jogos de futebol do principal campeonato italiano nestas regiões foram cancelados.

Isto, porque a Itália, especialmente no norte do país, é onde mais casos se registam diariamente no continente europeu.

Ainda não se sabe qual foi o "paciente zero", mas a melhor possibilidade recai sobre um indivíduo italiano chegado da China contaminado sem saber e ter feito a sua vida normal durante duas semanas, deslocando-se por algumas cidades, indo a discotecas, restaurantes e participado em actividades desportivas, deixando um rasto de possíveis centenas de contaminações que agora começam a emergir nos hospitais de Veneza e de Milão.

Este surto de Covid-19 em Itália está a evoluir de forma acelerada com mais de 120 casos detectados em apenas dois dias, de sexta-feira para Sábado, causando pânico generalizado, levando à imposição de restrições severas a todos aqueles que sejam provenientes da China e o cancelamento, para além do carnaval de Veneza, de actividades ligadas à moda em Milão, de jogos de futebol e também de pequenos eventos locais, como festas em discotecas, em 10 municípios lar de milhões de pessoas.

Um número tão grande de casos em Itália, de um dia para o outro está, no entanto, a gerar estranheza das autoridades sanitárias de Roma por não terem sido observados indícios do que estava a chegar.

No entanto, fora da China, o país com mais casos permanece o Japão, com 738, a Coreia do Sul, com mais de 600, sendo que, fora da Ásia, é, de facto, a Itália que apresenta mais casos, com 150 até à manhã de hoje, Domingo, 24, e com três fatalidades confirmadas, como avançou aos jornalistas o chefe da Protecção Civil italiana, Angelo Borrelli, citado pelo Corriere della Sera.

Borrelli disse ainda que todos aqueles que chegam da China, especialmente de zonas afectadas com maior gravidade pela doença, devem permanecer retirados nas suas casas de forma a interromper o caminho a este coronavírus.

No resto da Europa, o número de casos tem vindo a aumentar de forma considerável e os sinais de psicose avoluma-se, como é o caso de Portugal, onde, depois de ter sido descoberto um cidadão português contaminado, embora estando num navio de cruzeiro no Japão, os media lusos têm dado um gigantesco destaque a este caso.

Isto, quando na China as medidas iniciais começam a ser reduzidas, com várias províncias a permitirem já uma maior circulação de pessoas, as unidades industriais retomam pouco a pouco as suas actividades laborais, como é o caso da Guandong, a província que concentra o maior número de unidades exportadoras, porque o número de casos diariamente registados tem vindo a diminuir sólida e progressivamente.

Em Angola

Os 38 estudantes angolanos retidos em Wuhan, como o NJOnline noticiou, continua sem confirmação de quaisquer casos, embora as maiores preocupações incidam sobre os quase 40 estudantes nacionais de se encontram nas universidades de Wuhan e dizem que estão a atravessar sérias dificuldades e estão esgotados".

Isto, porque não podem sair de casa e a alimentação é cada vez mais diíficl de conseguir.

"Já é um mês sem sair, alimentação sempre a mesma e uma preocupação constante", disse Euclides Simeão, representante dos estudantes angolanos em Wuhan, em declarações à agência Lusa.

"Há universidades que fornecem alimentação aos estudantes, as três refeições diárias, mas há outras que não têm acorrido tanto", esclareceu, informando que a Universidade de Tecnologia de Hubei, onde estuda e reside, está a "facilitar a vida", ao destacar funcionários para fazer compras nos poucos supermercados da cidade que permanecem abertos, assegurando assim o acesso a produtos frescos.

Cristo José Sebastião, outro aluno ouvido pela Lusa, diz que o mesmo não se passa na Universidade Huazhong, e reclama da falta de bens essenciais, incluindo água mineral.

"A água que eles fornecem é água da torneira. Por estes dias, tenho comido farinha com água e açúcar. Só me restam cinco garrafas de água", expõe.

O Parlamento angolano votou na quarta-feira, 19, uma moção onde os deputados mostraram a solidariedade do País para com os estudantes que estão na China, nas zonas mais afectadas pelo coronavírus.

O documento foi aprovado com 117 votos a favor e 55 abstenções, sem votos contra.

Mas, em declarações de voto separadas, a UNITA e a CASA-CE pediram mais, nomeadamente que o Executivo trate de organizar o repatriamento dos estudantes angolanos na China.

O deputado Raul Danda, da UNITA, acusou a maioria do MPLA de estar a evitar retirar os estudantes angolanos da China para não melindrar o Governo chinês "por causa do dinheiro que Angola recebe da China".

O parlamentar acrescentou que esta inacção se deve ao facto de os deputados da maioria não terem os seus filhos na posição dos que estão actualmente na cidade de Wuhan, que estão a clamar nas redes sociais pelo repatriamento.

Manuel da Cruz Neto, do MPLA, disse não concordar com esta posição da UNITA porque "todos estão preocupados com os estudantes na China", acrescentado que esta moção hoje aprovada é um incentivo para que o Executivo actue de forma a defender os interesses dos angolanos na China, sublinhando estar o MPLA convencido de que assim vai acontecer.

O vírus pelo continente

Em África, o único caso confirmado permanece limitado ao Egipto, onde , no início de Fevereiro, foi detectado um caso referente a um cidadão chinês chegado daquele país, o que permite ao director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).

E África continua a ser um dos focos de atenção da OMS apoiando os países a estarem preparados para conter um eventual surto, seja pelo envio de kits que permitem diagnósticos rápidos, seja pela informação sobre como criar centros de quarentena e para o controlo das fronteiras.

Quarenta países no continente foram apoiados e equipados com material de uso pessoal, como fatos de protecção integral, minilaboratórios com capacidade de detectar precocemente os contágios eventuais por Covid-19.

A OMS declarou que 13 países, incluindo Angola, mas com destaque para o Egipto, a Argélia, Nigéria e a África do Sul, segundo um estudo da revista The Lancet, estão na linha da frente das preocupações por causa da intensidade das ligações a todos os níveis com a China.

Mas, como era o caso de Angola, até aqui a maioria dos países africanos viam-se na obrigação de enviar amostras de sangue para outros países, África do Sul ou Senegal, e esperar uma semana pelos resultados, enquanto agora esses testes são feitos localmente e os resultados são conseguidos em menos de 48 horas, graças ao envio de equipamento de laboratório pela OMS.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, com início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação médio é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem doentes.