Claramente, o mundo está hoje suspenso de qualquer piscar de olho de dois homens: Donald Trump, Presidente dos EUA, e de Kim Jong-Un, Presidente da Coreia do Norte. Donald já enviou um porta-aviões, navios e submarinos para o mar da Península Coreana; Kim tem uma chamada em linha com o centro de comando militar para accionar aquilo que garante serem as "contramedidas devastadoras", incluindo, disse-o de forma clara, um ataque nuclear aos Estados Unidos da América.
Hoje, 15 de Abril, o fundador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung, faria 105 anos. E, sempre que se comemora qualquer data relativa à morte ou ao nascimento do avô de Jong-Un, as festividades incluem ensaios nucleares, testes de mísseis balísticos ou enormes paradas militares preenchidas de discursos belicistas face aos EUA e à vizinha Coreia do Sul.
Pyongyang e Seul, de facto, ainda se mantém oficialmente em guerra desde 1953, quando foi assinado um armistício que manteve, até hoje, a tensão ao longo do Paralelo 38, que separa os dois lados desta histórica e famosa "trincheira", por impasse militar.
A China e a União Soviética apoiavam PyongYang e os EUA e o Reino Unido, suportavam Seul, numa guerra que nunca chegou ao fim, apesar de as hostilidades directas terem terminado em 1953.
A tensão, de facto, nunca desapareceu, com a Coreia do Norte em permanente conflito verbal com a Coreia do Sul, e vice-versa, com ameaças de invasão e divulgação de planos para assassinar políticos do outro lado, demonstrações de poderia militar, etc. Mas hoje, com os ânimos incendiados como não acontecia há 54 anos, o mundo enfrenta mesmo a hipótese de um conflito de larga escala.
Basta que o regime de Pyongyang não tenha condições de aceitar a "humilhação" de recuar nas comemorações normais do Dia do Sol, o aniversário do grande líder Kim Il-Sung, face à presença da armada norte-americana na sua costa, para que se transforme em verdade crua a ideia de que todos sabem como começam as guerras, mas ninguém pode adivinhar como vão terminar.
E há um elemento novo, também ele de difícil interpretação. Normalmente, as declarações belicistas são proferidas num tom triunfalista, quase cantado, do ponto de vista ocidental, seja na televisão estatal ou nas tribunas. Agora, foi diferente.
O mais sério aviso aos EUA foi proferido num tom calmo, demonstrando serenidade, por Choe Ryong-Hae, o número dois da hierarquia militar de Pyongyang, e um respeitado estratega militar, que veio a público garantir que, em caso de ataque norte-americano, as "contra-medidas existentes e prontas a ser accionadas, sê-lo-ão sem titubear e devastadoras", incluindo com a opção nuclear.
Os analistas enquadram esta disponibilidade aparentemente real para enfrentar a maior potência militar do mundo com uma ideia simples: o regime de Kim Jong-Un e toda a sua "entourage" não resistirá em caso de derrota, mas também não se aguentará por muito tempo, se, internamente, o líder supremo demonstrar fraqueza face ao histórico inimigo externo.
Japão e China tomam medidas
Perante este cenário periclitante, onde, na parada militar de hoje em Pyongyang, o regime mostrou novo mísseis, a par dos já conhecidos, com capacidade de alcançar alvos a mais de 1200 quilómetros, as medidas minimizadoras de um eventual ataque começaram a ser tomadas pelos países vizinhos.
Enquanto na mais distante Rússia, a preocupação parece ser com o sentido dos ventos nesta época do ano, favorável a Moscovo em caso de explosão nuclear na Coreia do Norte por causa de eventual ataque dos EUA, a China interrompeu todas as ligações aéreas com Pyongyang e o Japão pensa iniciar nas próximas horas a evacuação dos seus mais de 50 mil cidadãos na Coreia do Sul.
Entretanto, noutro sinal de evidente escalada da tensão, Pequim colocou hoje a pedir cautelas e medidas para baixar a tensão aos EUA e à Coreia do Norte o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, quando estes "recados" são, normalmente, dados por um porta-voz.
Seja como for, o dia de hoje está a ser monitorizado minuto a minuto pelos governos de todo o mundo, visto que poucos são aqueles que, no mínimo, não terão de tomar medidas de contingências para retirar cidadãos que estejam próximo da fornalha em que se pode transformar a Península Coreana de um momento para o outro.