No final da reunião por videoconferência da OPEP+, que na quinta-feira juntou os 13 países da Organização dos Países Exportadores (OPEP) e 10 não-alinhados, liderados pela Rússia, na denominada OPEP+, que teve lugar num momento de clara retracção do valor do crude devido à pandemia da Covid-19, entre outros factores de menor impacto, o aviso foi uma boa parte dos resultados, mas há outro menos pesado para Angola e os restantes desalinhados com as metas do programa de cortes.

Com algum alívio, segundo os analistas, a OPEP+ admitiu que os incumpridores, que estavam obrigados a compensar o facto de não terem cortado o acordo na sua produção já a partir de Setembro, não poder fazê-lo agora até ao final do ano, de forma a que as severas crises que atravessam não sejam potenciadas por esta imposição do "cartel".

Recorde-se que a OPEP+, que tem sucessivos planos de corte na produção desde 2017, tinha acordado em Abril, de forma a fazer face à crise alargada pela Covid-19, que atirou os preços do barril para valores historicamente baixos a partir de Março, retirar de circulação 9.7 milhões de barris por dia de Maio até final de Julho, sendo esse valor reduzido para 7.7 milhões a partir dessa data, 01 de Agosto, em princípio até Novembro.

Mas Abdulaziz bin Salman, que dá a cara pela Arábia Saudita, o país com maior capacidade de manuseamento da matéria-prima para controlo dos mercados, e, por isso, líder de facto da OPEP, deixou outro aviso que toca de forma indelével em Angola: "Os membros não podem agir como se os programas não fossem para cumprir, têm mesmo de alinhar com os seus compromissos!" e qem não o fizer, "vai sofrer como nem sequer imagina".

E isso vai já ser averiguado em Outubro, para onde foi marcada uma nova reunião de análise à situação, sob a perspectiva de menor procura devido ao crescente avanço da pandemia, e onde os que se costumam atrasar no cumprimento das obrigações foram advertidos que estarão, até lá, em observação próxima.

Apesar do tom ameaçador, este encontro de quinta-feira, 17, não desaguou em quaisquer medidas punitivas nem sequer foi anunciada qualquer alteração ao plano de cortes estabelecido, embora isso possa suceder com forte impacto no próximo "meeting" tendo em conta o avanço da Covid-19 e a ameaça de novos confinamentos por todo o mundo.

"Não cumprir com o acordado e depois dizer que se vai compensar não pode ser a norma", atirou bin Salman, sublinhando que, até ao fim do ano, todos terão de estar alinhados com os tramites do acordado, porque "o cumprimento integral não é um acto de caridade" e que "tentar ser mais esperto que os mercados não resulta porque a OPEP+ tem os olhos do mundo sobre si nestes tempos".

Os próximos encontros, do comité de especialistas e dos ministros que tutelam o sector nos membros da OPEP+ vão ter lugar a 17 e 19 de Outubro.

No que diz respeito a Angola, o não-cumprimento, que segundo as agências se situa na ordem dos 40 mil barris por dia, sensivelmente, deve-se ao facto de o País se debater com uma preocupante e prolongada quebra na produção que resulta, por um lado, do envelhecimento dos blocos, por outro, da falta de investimento na pesquisa e produção, no rasto das sucessivas crises desde 2014, quando o barril desceu, pela primeira vez em anos, dos 100 USD, sendo actualmente, a da Covid-19, a mais séria e severa.

Actualmente, Angola produz cerca de 1,29 milhões de barris por dia, quando ainda há um ano estava à volta dos 1,45 milhões de barris diários.

O cenário seria ainda mais rugoso se não fossem, como admitem as próprias multinacionais a operar no offshore nacional, as reformas legais encetadas no sector perlo Executivo de João Lourenço, nomeadamente nas facilidades fiscais concedidas na exploração e produção, o que inclui os campos marginais, embora nem tudo sejam rosas com os responsáveis destas foram dizer há dias ao Presidente da República.

Previsões não são as melhores

A procura por petróleo nas maiores economias mundiais vai diminuir significativamente mais depressa em 2020 que aquilo que era esperado pelos analistas devido à agressividade que a Covid-19 está a demonstrar nesta parte final do ano, e, em 2021, apesar de ser esperada uma recuperação, esta será mais lenta e complexa do que estava em perspectiva.

Esta conclusão consta de um relatório divulgado na passada semana pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), onde explica que a quebra na procura vai atingir os 9, 46 milhões de barris por dia em 2020, em comparação com os 9,06 milhões que estavam previstos.

Por detrás deste deslizar da procura em baixa está a crescente taxa de incidência das infecções pelo novo coronavírus em todo o mundo, naquilo que os especialistas apelidam de segunda vaga da Covid-19 desde que a doença foi conhecida em Dezembro de 2019, na China e que, devido aos generalizados confinamentos e à suspensão, em grande medida, da actividade económica planetária, provocou uma diminuição abrupta do consumo de crude e a sua consequente perda de valor nos mercados internacionais, tendo mesmo chegado aos 19 USD em Londres (Brent), referência para Angola, e aos históricos 40 USD negativos, no WTI de Nova Iorque, também em Abril, o por mês no sector.

Para a OPEP, segundo este seu último relatório, os "riscos permanecem elevados", igualmente é estimada a continuação da sua perda de vigor e a esperança é colocada claramente no surgimento de uma cura, como, por exemplo, uma ou mais vacinas, e menos na diminuição da intensidade da infecção devido às medidas sociais profilácticas.

Por outro lado, em 2021, ano onde terá lugar, aponta o documento da OPEP, uma recuperação do consumo, este será, todavia, mais lento, chegando apenas aos 6.62 mbpd, menos 370 mil barris por dia que o anteriormente esperado.

As razões para esta recuperação em "câmara lenta" são as mesmas que levaram a uma perda na procura mais agressiva, o avanço da pandemia e a substituição de milhares de empregos "normais" por teletrabalho, entre outras causas, como a destemperada recuperação nos sectores das aviação e transporte marítimo comercias.

Hoje, com uma abertura positiva, mas não na mesma escala com que fecharam as sessões de quinta-feira, onde tanto o Brent, em Londres, e que serve de referências às exportações angolanas, como o WTI de Nova Iorque, apagaram as luzes a subir mais de 2 por cento, o barril de Londres estava, cerca das 09:50, a subir 0,35%, para os 43,45 USD, enquanto o WTI trepava para os 41,08, mais 0,27% que na anterior sessão.