Na conferência de imprensa anual da petrolífera nacional, realizada na sede da empresa na baixa de Luanda, Carlos Saturnino adiantou, na parte introdutória, que o Estado, dono da empresa, injectou 10 mil milhões na Sonangol, sendo que desse montante, metade, 5 mil milhões USD, foram para liquidação antecipada da dívida e os restantes 50% para investimentos.
A dívida assumida hoje por Saturnino, de pouco menos de 4,9 mil milhões USD, é substancialmente mais baixa que aquela que foi anunciada pela sua antecessora, Isabel dos Santos, que, a 15 de Novembro, já depois de ter sido exonerada, veio a público, nas redes sociais, lembrar que tinha reduzido essa mesma dívida em 6 mil milhões de dólares, de 13 mil milhões para 7 mil milhões.
Numa clara crítica à anterior gestão, de Isabel dos Santos, Carlos Saturnino aproveitou esta conferência de imprensa anual para dizer que a nova administração, quando chegou à empresa, em Novembro de 2017, foi recebida "por uma manifestação de trabalhadores que não recebiam salários".
No mesmo tom, o PCA da Sonangol notou que a empresa gastou em consultorias, entre Novembro de 2016 e Novembro de 2017, período da gestão de Isabel dos Santos, 135 milhões de dólares.
Saturnino sublinhou que detectou, assim que efectuou o seu regresso à empresa, desta feita na qualidade de PCA, "a existência de um número elevado de conflitos judiciais e arbitrais", como foi sublinhando com imagens projectadas durante as explicações fornecidas aos jornalistas numa secção denominada "Constatações/Factos"
O presidente do Conselho de Administração da Sonangol lembrou o "esforço enorme que a empresa tem feito para subsidiar a economia nas províncias", notando que são gastos 100 milhões de dólares por semana nesse "esforço".
Ainda dentro desse esforço, Saturnino acrescentou que"grande parte do gasóleo é vendido para produzir electricidade", sendo essa uma importante despesa da empresa.
O líder da Sonangol enfatizou ainda que "a resolução amigável de alguns conflitos", como o que opunha a empresa à petrolífera norte-americana Cobalt, ou a situação dos investimentos em blocos no Iraque, "permitiram reduzir o risco financeiro".
Num dos mais complexos processos judiciais em que esteve envolvida a Sonangol, a Cobalt Internacional reclamava uma compensação de 2 mil milhões de dólares à petrolífera nacional devido à anulação de um negócio de 1,75 mil milhões de dólares.
Em causa estava o facto de a Sonangol ter desistido da compra da participação da empresa norte-americana em dois blocos angolanos. Situação que agora, segundo afirmou Carlos Saturnino, estará ultrapassada através de um acordo onde a empresa nacional efectuou um pagamento de 150 milhões de dólares de um total de 500 milhões, segundo Carlos Saturnino.
A galinha dos ovos de ouro
Recorde-se que Carlos Saturnino lidera aquela a que o Presidente da República baptizou de "galinha dos ovos de ouro" da economia angolana.
A responsabilidade da Sonangol é enorme na procura de uma saída para a crise que o país atravessa e foi isso mesmo que o Presidente da República sublinhou quando, na tomada de posse dos novos membros da administração, lhes pediu de forma clara para "cuidarem bem" da concessionária estatal petrolífera por ser a "galinha dos ovos de ouro" de Angola.
Na mesma cerimónia, João Lourenço afirmou que pretende que a Sonangol, "continue a ser, para a economia angolana, a galinha dos ovos de ouro", notando que essa metáfora serviu para sublinhar a importância de "cuidar bem" desta empresa.
"Eis a razão por que fazemos este apelo, para que cuidem bem dela", enfatizou João Lourenço.
Carlos Saturnino chegou a PCA da Sonangol deixando o lugar de secretário de Estado dos Petróleos e cerca de um ano após ter sido demitido, em Dezembro de 2016, pela sua antecessora no cargo, Isabel dos Santos, exonerada na mesma altura, de presidente da comissão executiva da Sonangol Pesquisa & Produção.
Carlos Saturnino tinha sido demitido por Isabel dos sob acusação de má gestão e de graves desvios financeiros da empresa.
A esta acusação, recorde-se, o agora PCA da Sonangol respondeu sublinhando que "não é correcto, nem ético, atribuir culpas à equipa que somente esteve a dirigir a empresa no período entre a segunda quinzena de Abril de 2015 e 20 de Dezembro de 2016".