Depois da contagem crescente de mortos, mais de 50, e milhares de feridos entre a multidão de palestinianos que ontem protestavam contra a abertura da embaixada dos estados Unidos da América (EUA) em Jerusalém, às mãos do Exército israelita, que recorreu a armas de fogo para abater os manifestantes, alegando que estava a defender as suas fronteiras, foram muitos os países que criticaram vigorosamente o uso indiscriminado de força.
Mas a África do Sul e a Turquia foram os que decidiram ir mais longe, chamando os seus embaixadores em Tel Aviv, o que é, no meio diplomático, um dos mais veementes protestos antes do corte de relações.
A par deste protesto oficial, centenas de sul-africanos participaram num protesto público em frente à embaixada dos EUA em Pretória e no consulado norte-americano em Joanesburgo, tendo as três maiores forças políticas do país, o ANC, maioritário, a Aliança Democrática (DA) e o Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), anunciado o seu apoio à medida tomada pelo Governo do Presidente Cyril Ramaphosa.
Também a Turquia avançou para a linha da frente deste protesto internacional, com o seu Presidente Recep Tayyip Erdogan, a acusar Israel de genocídio.
Erdogan deixou mesmo uma ameaça a Israel: "Este não será o dia em que deixaremos o mundo islâmico perder Jerusalém!".
"Estamos perante uma tragédia humanitária e o que Israel está a fazer é um genocídio", disse, acrescentando que Israel pretende, desde 1948, data da sua fundação, há 70 anos, expulsar os palestinianos da Palestina, ocupando cada vez mais território, tornando impossível a vida ali, o que faz de Israel "um Estado terrorista".
Globalmente, a maioria dos países recusou fazer-se representar na cerimónia de inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém, com vários pedidos de uma investigação internacional sobre o porquê do uso de força excessiva e desproporcional - tiro de espingarda automática contra pedras arremessadas pelos palestinianos -, tendo Angola integrado o grupo de 32 países que ocorreu à abertura da representação diplomática norte-americana na Cidade Santa, que coincide com o reconhecimento por Washington da disputada cidade como capital do Estado judaico.
Jerusalém é considerada Cidade Santa pelas três religiões "do Livro", cristãos, judeus e muçulmanos, exigindo o Governo palestino a parte Oriental da urbe para sua capital, a mesma exigência que Israel tem desde sempre para o país, especialmente a parte ocidental, embora ocupe militarmente a sua integridade.
O consenso existente, excepção feita pelos EUA e um pequeno grupo de países, é que o futuro da região palestina só pode passar por um acordo de paz que consagre a existência de dois Estados, como, de resto, está substanciado por resoluções das Nações Unidas, mas ao qual Israel se opõe desde sempre, contando com o veto dos Estados Unidos como norma.
Visão israelita
Depois de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter considerado o dia de ontem "glorioso" e afirmar que se estava a "fazer história" graças à decisão do Presidente Donald Trump, considerou a seguir que "todos os países têm o direito de defender as suas fronteiras".
UMa boa parte das fronteiras israelitas de hoje foram conseguidas foram com a ocupação de território palestiniano nas últimas décadas.
Recorde-se que a Autoridade Palestina, assim chamada porque a Palestina não é globalmente reconhecida como um Estado, tal como a generalidade dos países, defende que deve ser assinado um tratado de paz alargado que permita dois Estados na região, com fronteiras bem definidas e aceites pelas Nações Unidas.
No entanto, alguns países da região, como o Irão, não reconhecem o Estado de Israel, considerando que toda a região da Palestina deve ser para os palestinianos, alguns com a opção assumida radical de expulsar todos os judeus daquela geografia.
Isso mesmo foi tentado por duas vezes, em 1967 e em 1973, quando coligações de países árabes, liderados em ambas as situações pelo Egipto e pela Síria, desencadearam fortes ofensivas militares contra Israel, saindo este vencedor de ambas as guerras, que ficarm conhecidas pelas guerras dos seis dias e Yon Kippur.
Estes conflitos abertos foram aproveitados por Israel para ocupar territórios vizinhos, como é caso mais conhecido o dos Montes Golã, que foram anexados por Israel em 1973, na guerra de Yon Kippur, desencadeada exactamente para recuperar de Israel territórios ocupados na guerra dos seis dias, em 1967.