O Presidente norte-americano cancelou na passada quinta-feira à noite, no último minuto, um ataque com mísseis e caças-bombardeiros a vários alvos no Irão como resposta ao abate de um avião espião não-tripulado - drone - pela defesa anti-aérea da Guarda Revolucionária, o corpo de elite das Forças Armadas persas, mas anunciou de imediato que as bombas seriam substituídas por mais sanções económicas, desta feita visando directamente o Aiatola Khamenei, que é a mais alta autoridade do regime de Teerão, e ainda outros dirigentes do país, tanto civis como militares.
Estas juntam-se a uma lista alargada de sanções já em vigor que estão, desde que Trump abandonou, o ano passado, unilateralmente, o acordo nuclear que o seu antecessor, Barack Obama, e vários países europeus, a Rússia e a China, tinham assinado com o Irão e que determinava o fim dos objectivos bélicos do programa nuclear deste país, o que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o organismo internacional responsável por vigiar o acordo, garantia e garante que está a ser cumprido integralmente por Teerão.
Com o retomar das sanções, as anteriores e agora reforçadas, o Irão entrou numa espiral depressiva na sua economia, impedido que está de exportar petróleo, a principal fonte de receitas, tendo passado de 2,5 a 3 milhões de barris por dia para vendas de apenas 500 mil barris diários, bem como o impedimento de importar bens como, por exemplo, peças sobressalentes para os seus aviões comerciais ou ainda uma série de medicamentos essenciais.
Os EUA conseguem garantir este tipo de sanções com ameaças aos países e às empresas de serem expulsos do sistema financeiro norte-americano, tendo como resultado, a título de exemplo, as multinacionais do sector automóvel europeu terem deixado de exportar veículos para o Irão porque isso iria resultar num aumento brutal das taxas alfandegárias para que estes mesmos carros e camiões pudessem ser vendidos nos Estados Unidos.
E nenhuma marca europeia, seja de automóveis, seja de outro qualquer bem exportável, está em condições de trocar o mercado de 270 milhões de pessoas e a 1ª economia mundial por um mercado de apenas 80 milhões e uma economia deprimida por décadas de sanções americanas e israelitas, entre outros, como, por exemplo, a Arábia Saudita, dois países que defendem uma intervenção militar norte-americana contra o Irão.
Face a esta sucessão de acções inamistosas, apesar de a China, a Rússia e a União Europeia garantirem que se mantêm no acordo nuclear e criticarem vigorosamente as sanções norte-americanas - recorde-se que as empresas destes países, pelo menos as europeias, não trocam o mercado iraniano pelo americano e não seguem a política oficial à risca como acontece nos EUA -, o Irão está apostado claramente em esticar a corda.
Isso mesmo ficou provado com o abate do drone espião norte-americano que voava sobre o Estreito de Ormuz - canal por onde passa mais de 20% do petróleo que abastece o mundo, vindo do Golfo Pérsico para o Mar de Omã -, como forma, segundo admitem vários analistas, de pressionar os outros signatários do acordo nuclear de 2015 para, também eles, enfrentarem os EUA na questão das sanções, até porque um conflito naquela região, altamente volátil, do Médio Oriente, seria como acender o rastilho de um gigantesco barril de pólvora, que faria igualmente implodir a economia planetária devido ao disparo do preço do crude nos mercados internacionais.
E a corda está a ser esticada agora com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão - o ministro Javad Zarif também está na lista das novas sanções que, entre outras consequências, impede estas figuras de poderem recorer ao sistema financeiro internacional - , segundo a agência de notícias oficial, IRNA, a informar que acabou a diplomacia entre Teerão e Washington.
Segundo esta agência, os EUA acabam de colocar um ponto final em qualquer possibilidade de diplomacia entre os dois países, reafirmando que se tratam de "sanções sem sucesso" da "Administração frustrada" de Donald Trump, que, recorde-se, mantém publicamente o discurso de que as sanções e um eventual ataque militar ao Irão tê como único propósito impedir este país de obter armas nucleares, as tais armas nucleares que a AIEA garante que não estão, de forma nenhuma, a caminho de poderem ser obtidas por Teerão.
Trump insiste que a sua intenção é fazer o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, regressar à mesa das negociações, mas, ao mesmo tempo, parece apostar - veja-se a aplicação de novas sanções - em que isso não vai acontecer nunca.
O Irão, recorde-se, tem um Presidente eleito, numa das mais sólidas democracias do Médio Oriente, e um líder de cariz religioso, o Aiatola (não eleito democraticamente) cujo poder iguala ou supera, em determinadas situações, o do Presidente eleito.
Os primeiros ataques ocorreram em Maio e os dois últimos já este mês, com os EUA, a Arábia Saudita e Israel a acusarem o Irão da sua autoria, embora tal acusação tenha sido fortemente questionada por países como o Japão, a China, a União Europeia e a Rússia, porque o Irão era quem mais teria a perder com tais ataques e, por exemplo, um dos petroleiros é japonês e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, estava em Teerão em visita oficial quando o ataque sucedeu.
Abe veio imediatamente alimentar dúvidas de que tivesse sido o Irão, sublinhando que um dos argumentos dos EUA, que os ataques exigiram meios altamente sofisticados que o Irão dispõe, também pode ser apontado à Arábia Saudita e a Israel, cujos arsenais militares possuem tecnologia semelhante ou superior.
Apesar disso, os EUA, através dos seus "falcões de guerra", John Bolton, Conselheiro de Defesa, e Mike Pompeo, Secretário de Defesa, de Trump, insistem no caminho da guerra e, actualmente, como revelaram hoje as agências, Pompeo está em périplo pelo Médio Oriente e Europa com o objectivo de formar uma laga coligação com o objectivo de atacar o Irão, com similitudes com a coligação que na década de 1990, os EUA formaram para atacar o Iraque, e já em 2003, também o Iraque, justificando a invasão com a existência de amas de destruição massiva que, pouco depois, se provou que não faziam parte dos arsenais de Sadam Hussein.