Episódios drásticos que criaram um caldeirão de razões para o alastramento do conflito no Médio Oriente e que levaram o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, a voar outra vez para Israel para meter água na fervura que pode gerar queimaduras de 3º grau na economia mundial a partir da região que produz mais de 40% do petróleo consumido em todo o mundo.
Trata-se da destruição, em dois ataques aéreos de grande potência, de seis edifícios habitacionais (ver links em baixo nesta página) com vários andares, em Jabalia, o campo de refugiados em Gaza - que, apesar do nome, é um bairro solidamente organizado e não as tendas a que se está habituado a relacionar com o termo - que provocaram 195 mortos, entre estas dezenas de crianças, e mais de 500 feridos, e ainda o avanço definitivo da força terrestre israelita sobre o norte de Gaza.
Ambos os casos tinham sido definidos, claramente pelo Irão, e de forma menos efusiva e com uma linguagem menos evidente, pela Turquia, pela Jordânia e pela Síria, como linhas vermelhas para definir a fronteira entre a acção e a diplomacia.
Para já, o Irão voltou à carga, como o ayatolah Khamenei fez questão de afirmar e de forma a que em Israel se percebesse o que estava a dizer, escolhendo a língua hebraica para se expressar, ameaçando Israel de destruição total "em dias" se um dia deixar de contar com o apoio dos Estados Unidos.
Ali Khamenei disse, nas redes sociais, que o Governo israelita mente ao próprio povo quando diz estar "preocupado com os reféns" na posse do Hamas porque não se inquieta com a sua morte através dos seus próprios bombardeamentos e garante a destruição do Estado judaico "em dias" se os EUA deixarem de garantir a sua segurança.
Outro risco severo de escalada vem do Hezbollah, no sul do Líbano, norte de Israel, que serve como plataforma de acção iraniana na região, visto que se trata de um movimento político-militar financiado e organizado pelo Irão, e que tem, no passado recente, sido a grande dor de cabeça de Telavive, como ficou claro em 2006, quando infligiram uma derrota miliar às forças de defesa israelita (IDF).
E já nesta sexta-feira se poderá ter uma ideia mínima das intenções do Hezbollah, e do Irão, quando o líder deste movimento, Sayyed Nasrallah, ier a público com uma declaração sobre a actual situação do conflito, havendo, segundo a Lusa, analistas que acreditam que dele poderá resultar o alastramento da guerra na vasta região do Médio Oriente.
O outro episódio tido como importante para a acção dos restantes países, árabes (Jordânia, Iraque, Síria, Egipto...) ou islâmicos (Turquia e Irão) é a invasão terrestre a Gaza, que é já uma evidência, depois de as IDF terem anunciado o cerco à Cidade de Gaza.
O Exército israelita, ainda segundo a Lusa, anunciou ter "completado o cerco à cidade de Gaza", uma semana após o início da sua operação terrestre no território palestiniano da Faixa de Gaza.
"Os nossos soldados completaram o cerco à cidade de Gaza, o centro da organização terrorista Hamas", declarou em conferência de imprensa o porta-voz do Exército israelita, Daniel Hagari.
"O conceito de um cessar-fogo não está em cima da mesa", acrescentou o responsável militar, sobre a guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, desde 2007 no poder na Faixa de Gaza, desencadeada a 07 de Outubro por um ataque de dimensões sem precedentes do Hamas a território israelita.
Os esforços de contenção
Para quebrar o nervo da fúria israelita sobre Gaza que, recorde-se, está em movimento deste 07 de Outubro, quando o braço armado do Hamas, as Brigadas Al Qassam, invadiram o sul de Israel, onde fizeram mais de 1400 mortos, entre militares e civis, 2 mil feridos e duas centenas de reféns, o secretário de Estado norte-americano voltou esta sexta-feira, 03, a Israel, pela segunda-vez deste 07 de Outubro, para conversações com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Esta visita tem contornos distintos da primeira, porque então, Antony Blinken chegou a Israel, onde se apresentou como judeu antes de governante, para demonstrar um total e ilimitado apoio a Netanyahu no seu esforço de guerra em Gaza.
Desta feita, por detrás da deslocação de Blinken estão as novas palavras do seu Presidente, Joe Biden, que mudou claramente de tom, estando agora a pedir a Israel a aceitação de pausas humanitárias para acudir à população civil de Gaza, intensamente sob bombardeamentos israelitas.
A mudança de linha de Biden coincide com uma crescente vaga de protestos globais contra Israel, incluindo nos EUA, onde vários activistas antiguerra interromperam discursos oficiais, incluindo de Joe Biden, exigindo o fim dos ataques sobre a população civil, que já fizeram mais de 9 mil mortos em Gaza, entre estes milhares de crianças, e 15 mil feridos, na sua maior parte mulheres e crianças.
Para já, as palavras de Biden estão a ser ignoradas em Telavive, com as IDF não só a manterem os bombardeamentos a Gaza como a reforçar o número e a potência das bombas que devastam largas áreas urbanas da Cidade de Gaza, onde as forças terrestres avançam.
Segundo as IDF, as forças israelitas já estão no interior da Cidade de Gaza, onde se travam fortes combates rua a rua com os combatentes do Hamas.
Os resultados das conversas de Blinken em Telavive deverão reverberar em toda a região do Médio Oriente, e no mundo, porque se prevê que se não for dado um sinal claro de contenção das IDF, nomeadamente com a abertura de corredores humanitários, poder-se-á assistir a um alastrar do conflito, imediatamente pelo Hezbollah, no norte de Israel.