O general Khalifa Haftar foi um dos militares que acompanhava o antigo líder líbio, Muammar Kaddafi, quando este tomou o poder pela força, em 1969, e está agora à frente de um forte dispositivo militar que procura derrubar pela força das armas o Governo líbio que a comunidade internacional - ONU - reconhece como legítimo sucessor do regime deposto em 2011.

Este avanço de Haftar, de 75 anos, e do seu ENL acontece depois de ter conquistado, a partir de Bangazi, uma vasta área da Líbia, fundeando forças em torno de Tripoli, capital do país e sede do Governo de Acordo Nacional (GAN) do primeiro-ministro, Fayez al-Sarraj (59 anos), reconhecido internacionalmente.

Sarraj acusa Haftar de tentar liderar um golpe com o apoio do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos, numa ofensiva alicerçada em forças bem armadas, incluindo aviões de combate, com os quais efectuou um ataque ao único aeroporto do país com condições de ter um serviço internacional.

Apesar dos apelos intensos das organizações internacionais, com o Secretário-Geral da ONU, António Guterres a sair em defesa de "tréguas imediatas" para dar espaço útil ao diálogo entre os beligerantes, a situação no terreno, segundo os recentes relatos das agências de notícias internacionais, não parecem estar encaminhados para o fim das hostilidades.

Em causa, como admitem vários analistas internacionais, está claramente o controlo das 9ªs maiores reservas de petróleo do mundo, com cerca de 50 mil milhões de barris confirmados, mais que a Nigéria e Angola, que são os maiores produtores actuais em África, o que justifica que estes problemas estejam a ser indicados como uma das razões para o recente aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais.

Este país do norte de África vive desde 2011 uma situação de latente guerra civil, comm diversas facções em permanente combate por territórios, especialmente aqueles onde estão localizadas as infra-estruturas petrolíferas, ou o aeroporto de Mitiga, em Tripoli, cujos voos estão suspensos há vários dias.

Apesar de a ONU reconhecer apenas como Governo legítimo da Líbia o GAN, a verdade é que desde 2011 que o país está dividido por duas forças opostas e em duas distintas regiões, com controlo em Tobruque, (afecta a Haftar) e em Tripoli, sob domínio do primeiro-ministro Sarraj.

Com o recrudescer dos combates, milhares de pessoas optaram por fugir da região de Tripoli e aumenta o risco de a Europa ser, de novo, o destino mais seguro para aquele sque lá conseguirem chegar para escapar a mais uma guerra que pode resvalar para mais uma violenta e total guerra civil.

Mas essa fuga de populares civis não deve amolecer o ímpeto conquistador do antigo coronel de Kaddafi que, como conta a Reuters, depois de tomar o sul do país, rico em petróleo, facilmente juntou o seu "império" as regiões desérticas até chegar à costa para entrar em Tripoli.

Todavia, por estar fortemente armada e protegida, a cidade pode não ser conquistada tão facilmente porque o governo do primeiro-ministro Sarraj conta com o apoio de centenas de milicianos armados que estão a chegar à cidade para o apoiar.

Esta repentina violência foi um xeque-mate aos planos da ONU, que estava a programar uma conferência alargada para a próxima semana com o objectivo de conduzir um processo eleitoral abrangente.

Alguns analistas, embora coloquem este conflito num patamar onde reinam os interesses internacionais, como , por exemplo, o apoio da França a Haftar e da Itália a Sarraj, sempre com as monstruosas reservas de petróleo debaixo de olho, admitem que por detrás da acção do antigo oficial de Kaddafi de restaurar a ordem.

Para já, sabe-se que Haftar, que passou vários anos nos EUA depois de se afastar de Kaddafi, pretende ser comandante geral das forças militares líbias, a partir de onde poderia facilmente exercer a sua influência e controlo do Governo e evitar que o radicalismo islâmico, a que se opõe, ganhe terreno no território líbio.

O que pode estar em causa para além do controlo de território, e se o actual conflito degenerar mesmo para uma guerra civil, é descrito por alguns analistas como a grande machadada na segurança do Mediterrâneo e uma seta apontada à segurança da Europa, com eventuais implicações em todo o norte de África e no Médio Oriente, como recorda o britânico The Guardian.

Se as "primaveras árabes" abriram caminho à democracia em países como a Tunísia e tentativas de fazer esse caminho no Egipto, ou na Síria, o triunfo de um general na Líbia pode abrir a porta das traseiras para o regresso dos regimes de ferro em alguns destes Estados.

Para já, é certo que o frágil governo forjado a tenazes pelas Nações Unidas, sob um chapéu artificialmente representativo de todo o país - que não corresponde à realidade como se vê - deixou de poder ser apontado como cara do Estado líbio tendo em conta que mais de metade do país está agora sob domínio do general Haftar.

A tentativa da ONU de fazer da Líbia uma democracia e um Estado gerido por partidos civis, a partir da conferência de 14 e 15 de Abril, como a própria organização planetária admite, está à beira do descalabro.