O antigo Presidente, que convocou uma conferência de imprensa na nova sede da Fundação Eduardo dos Santos, garantiu ter deixado mais de 15 mil milhões de dólares nas contas do Banco Nacional de Angola (BNA).
"Vou começar por dizer que não deixei os cofres do Estado vazios, quando na segunda quinzena do mês de Setembro de 2017 fiz a entrega das minhas funções ao novo Presidente da república. Nessa altura, nas contas do Banco Nacional de Angola, estavam mais de 15 mil milhões de dólares como reservas internacionais liquidas. O gestor dessas contas era o senhor governador do BNA (Walter Filipe)".
José Eduardo dos Santos afirmou a necessidade de "prestar alguns esclarecimentos" sobre a forma como conduziu a coisa pública durante os 38 anos de Governo, sem, no entanto, mostrar qualquer disponibilidade para responder a perguntas dos jornalistas.
"Apesar da crise provocada pela redução do preço do petróleo bruto, que chegou até aos 38 dólares por barril, nós tínhamos a economia sob controlo", disse o antigo Presidente, acrescentando que a moeda não sofreu desvalorizações, os salários dos funcionários públicos, incluindo o 13.º mês, foram pagos regularmente, e o poder de compra dos salários foi mantido, havendo lugar a actualizações, em função da taxa de inflacção.
"Com a produção nacional e com alguns produtos importados garantimos os produtos da cesta básica e as matérias-primas para indústrias e material para construção, afirmou ainda José Eduardo dos santos.
A resposta de Dos Santos surge cinco dias depois de o actual Presidente da República (PR), João Lourenço, ter afirmado, numa entrevista ao jornal português Expresso, que tinha encontrado os cofres do Estado vazios quando tomou posse.
Nesta entrevista citada pela Lusa, João Lourenço criticou a forma como o seu antecessor no cargo, José Eduardo dos Santos, procedeu na fase de transição do poder, dizendo que não houve uma "verdadeira passagem de pasta", o que o obrigou, nos primeiros meses no Palácio da Cidade Alta, a um trabalho redobrado para se inteirar da real situação do país.
"Esperava uma verdadeira passagem de pasta em que me fosse dado a conhecer os grandes dossiês do país e isso, de facto, não aconteceu", lamentou João Lourenço, que aproveitou ainda para dizer que esse momento de transição foi quando se deu conta da "anormalidade" dos últimos actos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
"Estivemos diante de uma anormalidade, com despachos feitos em vésperas da minha investidura, nomeadamente, entre outros, sobre o porto da Barra do Dande, para favorecer quem pretendiam favorecer", disse, numa clara alusão referência à concessão da obra a uma empresa ligada à sua filha, Isabel dos Santos, a Atlantic Ventures.
Quanto a José Filomeno dos Santos, também filho de José Eduardo dos Santos, que está actualmente preso por suspeitas de ter tentado retirar dinheiro do Fundo Soberano, de que era administrador, João Lourenço recordou a crise das finanças do Estado que encontrou há um ano, quando tomou posse.
Além da crise económica, "ainda houve a tentativa de retirada dos parcos recursos do Estado de cerca de 1,5 mil milhões de dólares para serem depositados numa conta no exterior de uma empresa de fachada", declarou o PR ao Expresso.