Que leitura faz sobre as relações entre Angola e o Reino de Marrocos?
Angola tem que continuar a ter uma vida, uma relação entre os países, e, portanto, é normal e é bom que esses encontros se façam, mas isso não impede o diálogo plural. Estamos aqui também e somos parte dessa sociedade. Então, eu nunca defendi relações entre os países que passem por relações partidárias, ou governos partidários, senão de povo para povo. E nessa perspectiva, temos de manter o diálogo com todos esses países, irmãos de Angola.
O senhor acaba de chegar de um encontro com a diáspora angolana na Europa. Quais foram os resultados?
Acabo de chegar a Angola hoje, vindo de uma série de programas que ocorreram na Europa, de que saliento um facto de grande importância, que é o encontro com a diáspora na Europa, ocorrido em Lisboa, onde tive a enorme satisfação de poder partilhar a nossa realidade, os desafios de Angola de hoje, a importância que a diáspora tem na construção de um país amanhã, porque a diáspora não é irrelevante. Nós dizemos que não temos quadros. Nós temos sim! Nós temos muitos quadros que têm de ser devidamente acarinhados, e que precisam de ter sabido adaptar-se, oferecer oportunidades e que todos os dias saem de Angola. Todos os dias!
Nesta minha viagem, encontrei dezenas e dezenas de angolanos que me dizem saí há dois meses, saí há quatro meses. E eu perguntava o que é que fazia? Eles diziam: Era gerente do banco X, era director nacional de um ministério, encontrei um. E agora faz o quê? Tornou-se caixa numa pequenina casa. Então, isso faz-nos mal. É uma nova emigração, indiscutivelmente, eu dizia mesmo isso, nós temos uma nova emigração pesada de efeitos muito negativos para nós. São esses quadros que nos vão fazer muita falta na construção do País. Um país tem de ter uma estratégia de os fazer regressar, de criar condições para que não continuemos a sair do País. Quem está a sair fundamentalmente são jovens e quadros. Portanto, diríamos que são quadros e são jovens.
Que avaliação faz do encontro?
O encontro foi excelente. Tive a oportunidade de ter também ali, nesse encontro da diáspora, lideranças da sociedade civil, activistas cívicos que abandonaram Angola depois das eleições. Foram bastante perseguidos e que identificaram aquela também como uma oportunidade para virmos e colocarmos um objectivo comum, a manutenção da chama de Angola acesa. Eu venho muito contente porque vi uma bela representatividade daqueles angolanos que estão fora há muitos anos, que apareceram, vindos de todo o lado, mas também uma bela representação de jovens que fazem parte dessa nova emigração.
Esta nova emigração é constituída maioritariamente por jovens. E como é que eles estão? Qual é a sua visão sobre a actual situação do País?
Eles (jovens) estão revoltados. Quero dizer, eles estão cansados, são sofredores. Não tenha nenhuma dúvida, o angolano sofre. Foram à procura, fundamentalmente, da educação dos filhos, é uma coisa que se lhes reconhece. A maior parte daqueles que saíram mesmo jovens tem um ou dois filhos, e esses não tinham a condição de ter a estabilidade familiar e dizem-me: "Apesar de estar hoje aqui com menos representatividade social, eu tenho estabilidade para a educação dos meus filhos". Contudo, o mais importante querem voltar. É muito ouvir esse tipo de questões, mas eu encontrei também nessa reunião um outro estrato não comum. Muita gente tem vínculos ao partido do regime e se mostra completamente desiludida. É uma realidade. E que foi para ali também sem medo de se mostrar, que participou. Foi um debate muito rico, foi uma tarde inteira em que não estive sozinho, estivemos à liderança da Frente Patriótica Unida.
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