Um gigantesco "exército" de lagartas-militares africanas e americanas, do género Spodoptera está a conquistar vastas áreas da África Austral, alertando os especialistas para o "perigo real" desta praga poder em breve ameaçar a segurança alimentar da região Sul do continente africano.
A praga foi detectada primeiro, em meados de 2016, na Zâmbia, mas rapidamente avançou para Sul e está já a provocar substanciais estragos nas culturas de oito países, sendo a Namíbia, nas suas províncias do Norte, junto à fronteira com Angola, um dos países mais afectados pela praga provocada por esta combinação devastadora de lagarta militar africana e americana.
A denominação lagarta militar surge do seu comportamento quando se está a alimentar porque, depois de consumir uma área cultivada, avançam aos milhões pelo chão em formação parecido às marchas militares, até encontrarem nova área cultivada, deixando um rasto de destruição nas suas deambulações.
Exemplo claro da capacidade destruidora desta lagarta é o impacto que está a ter no nordeste namibiano, onde as autoridades locais de pelo menos duas províncias já lançaram apelos ao Governo de Windhoek para ir em seu socorro devido ao avanço incontrolável desta praga de lagarta militar.
Kenneth Wilson, um especialista neste insecto, foi claro, em resposta a alguns jornais e sites africanos, que a região Sul do continente está perante um "perigo real" de se confrontar com escassez alimentar, porque já são oito países a enfrentar o problema e não parece que esta praga esteja a ser dominada.
Uma das razões para que estes surtos estejam a suscitar maiores dúvidas no método para os debelar é a resistência que estão a apresentar aos químicos, como é disso exemplo o Norte da Namíbia.
A questão agora, como explicou ainda Keneth Wilson, é que, ao que tudo indica, desta feita trata-se de uma combinação pouco usual da lagarta militar nativa Spodoptera exempta e uma espécie nova invasora oriunda das Américas do Centro e do Sul Spodoptera frugiperda, cujo histórico revela grandes destruições de milho e outras culturas quando ocorre como praga no continente americano.
Como terá chegado a África,, os investigadores ainda não sabem, mas, depois de ter sido inicialmente identificada na Nigéria, duas hipóteses se apresentam: ou desceu até à Africa Austral ou viajou acidentalmente em plantas importadas do continente americano.
O maior impacto desta praga, seja a lagarta militar africana ou a sua parente americana, é nas culturas de milho, trigo, sorgo e arroz, mas sem que as pastagens dos animais estejam a salvo, podendo colocar em risco os animais ao atacar os seus pastos.
O seu potencial agressor mede-se pela concentração de animais, que pode chegar a ser superior a mil por metro quadrado, nas piores pragas, devastando milhares de hectares em escassas horas
Em África, contando apenas com a lagarta nativa, há registos, nos últimos anos, de milhões de toneladas de cereais destruídos na Zâmbia, no Zimbabué, entre outros.
Mas a combinação das duas espécies que está agora a acontecer, pode ter resultados muito mais devastadores, até porque os químicos usualmente utilizados para o seu controlo não se estão a mostrar à altura e, não havendo referência para África, o Brasil tem um custo médio anual de 600 milhões de dólares.
Para já, nos países onde a praga já está a ter impacto, os governos reportaram compras volumosas de químicos, alguns deles sem garantias de eficácia, o que significa que mesmo que tarde a encontrar uma solução, os custos já vão ser de milhões de dólares, independentemente do sucesso do combate a este "exército".
Para já, apesar de estarem a ser estudadas soluções biológicas, através da utilização de potenciais predadores naturais ou de biopesticidas, cujas fórmulas são compostas por agentes que provocam doenças nas lagartas, como os vírus, etc. os químicos são a única garantia, embora a resistência a estes seja cada vez maior na espécie americana.
O impacto global desta praga, ou conjunto de pragas em simultâneo, como adiantou ao News 24 Keneth Wilson, só poderá ser devidamente avaliado quando as culturas forem colhidas nos diferentes países.
O Novo Jornal online está a procurar obter informações junto do Ministério da Agricultura angolano sobre o impacto desta praga em território nacional.