A Spodoptera frugiperda é uma das mais temíveis inimigas das populações africanas que vivem de uma agricultura de subsistência, como é o caso de Angola, especialmente as províncias do sul, como o Cunene, onde acaba de ser dado o alerta para o regresso desta praga, na comuna do Calonga, Cuvelai, que, como o NJOnline tem noticiado, há vários anos é uma presença indesejada.

O chefe de Departamento de Vigilância Epidemiológica Animal e Vegetal do Gabinete Provincial da Agricultura do Cunene, Felipe Capitango, disse à Angop que está a ser feito um levantamento para se averiguar a real dimensão do problema e prestar toda a ajuda aos agricultores afectados.

Actualmente, este departamento não dispõe dos insecticidas normalmente utilizados para combater esta praga de lagarta militar que avança aos milhões sobre as culturas, desde o arroz, ao massango, passando pelo milho, demonstrando um apetite voraz por todo o tipo de cultura, quase sem inimigos naturais que possam reduzir o seu avanço sobre o sul de Angola, vindo estes "exércitos" dos países vizinhos do sul, estando já a provocar fortes estragos em países como a África do Sul ou a Namíbia, entre outros.

Só numa fazenda, depois de ter sido descoberta a sua presença há cerca de duas semanas, a Spodoptera frugiperda já destrui dezenas de hectares de milho, temendo os agricultores que, à medida que cresce em número, estes insectos possam entrar também nas culturas de massango, massambala ou mesmo o feijão.

E há uma coisa que os agricultores sabem pela experiência de outros anos: se a Spodoptera está no Cunene, também já está, ou deve estar a chegar, no Kuando Kubango e na Huíla, pelo menos.

Na África do Sul, onde a presença da lagarta militar foi detectada há duas semanas, na região do Cabo, as autoridades, como lembra o Escritório das Nações Unidas para as Emergências Humanitárias (UNOCHA), lançaram um alerta para que a sua presença seja reportada com urgência quando detectadas, mesmo aos mínimos sinais.

Isto, porque, como lembra a FAO, quando o insecto é pequeno, os tratamentos químicos têm mais eficácia, porque quando a lagarta atinge mais de 1 centímetro, esta consegue introduzir-se mais fundo, por exemplo, nos caules do milho, o que dificulta muito o seu combate.

Em média, estas invasões, quando não são combatidas devidamente, deixam um rasto de destruição de mais de 50% das colheitas das áreas afectadas, existindo mesmo informações de que essa destruição chega a ser total se as condições climatéricas forem as adequadas para a lagarta militar, que, como o NJOnline já noticiou, em África ocorre em co dupla acção, porque dois tipos deste bicho se juntaram na destruição, a lagarta militar africana e a americana.

E, como estão já a sentir alguns fazendeiros do Cuvelai, nem todos os insecticidas servem para controlar, ou, pelo menos, reduzir o avanço destes "exércitos", como bem lembrou o responsável da fazenda Vanzul, António Pedro, à Angop, a quem fez saber que está a pulverizar, com insecticidas, os campos agrícolas, mas sem grandes efeitos, visto que as lagartas continuam a devorar as plantas.

A muito aguardada arma biológica

Mas estas dificuldades de conter ou exterminar esta praga podem estar à beira de ser reduzidas substancialmente com a introdução de um novo tipo de armamento.

Um grupo de cientistas, segundo a agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), acaba de conseguir um grande avanço na procura de uma arma eficaz contra este grande inimigo dos agricultores dos países em desenvolvimento, como é o caso de todos os do continente africano, onde mais de 200 milhões de pessoas estão na linha da frente de sentir os efeitos devastadores do surgimento deste peste.

A generalidade dos países da África Austral e muitos da África subsaariana estão há vários anos a sentir os efeitos da passagem destes "exércitos", o que levou a um esforço suplementar na procura de uma arma que permita esperança no desfecho desta guerra, e que já deu frutos: o Telenomus remus.

E o que tem de especial este Telenomus remus, um insecto parecido com uma mosca natural da Malásia e da Nova Guiné? Usa a Spodoptera para nela depositar os seus ovos e, nesse processo, enquanto completa o seu desenvolvimento larvar, alimenta-se do seu corpo levando-a à morte.

E o melhor é que esta técnica, segundo um recente relatório da FAO, já está a ser usado com sucesso nas Américas, permitindo o combate à lagarta militar não só com mais eficácia mas também de uma forma mais amiga do ambiente porque leva a uma forte redução no usso de insecticidas químicos, que produzem um efeito nefasto no ambiente, contaminando os solos e os cursos de água adjacentes para onde são levados pelas escorrências das regas ou das chuvas.

Face a este sucesso, um grupo de pesquisadores internacional está a desenvolver um trabalho laboratorial apurado no sentido de confirmar a existência de condições seguras para o uso do Telenomus remus em países como o Benim, o Níger, o Quénia e a África do Sul.

Mas a FAO lembra que, para além deste insecto oriundo da Ásia, em todos os cantos de África são procurados inimigos naturais para a lagarta militar, embora sem muito sucesso até agora.

O seu uso pode estar, segundo os especialistas da FAO, disponível em breve, embora não tenham sido avançadas datas concretas, mas a urgência é evidente, visto que a lagarta militar, segundo os cálculos existentes, pode destruir mais de 20 milhões de toneladas de milho por ano nos 12 maiores produtores deste cereal em África.

A contabilidade nos outros cereais não é menor, o que pode significar fome generalizada em muitas regiões, incluindo o sul de Angola, já fortemente afectado pela seca.

Mas a FAO lembra que, para além deste insecto oriundo da Ásia, em todos os cantos de África são procurados inimigos naturais para a lagarta militar, embora sem muito sucesso até agora.