No Médio Oriente, a "ameaça" chega da iminente assinatura de um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel, com as conversações a decorrer no Egipto, o que tirará pressão ao barril, arrefecendo os mercados, há semanas, no caso do Brent, a rondar os 90 USD.

Mas, a pressionar em sentido inverso, nos EUA, a maior economia do mundo e o maior consumidor global, a expectativa de não haver mexidas nas elevadas taxas de juro está a gerar inquietações entre os analistas, porque isso pode conduzir a um fortalecimento do dólar.

E quando o dólar fortalece, porque ainda é a moeda franca global para este negócio, a tendência é de descida do valor do barril, porque as restantes economias precisam de mais das suas moedas nacionais para obter os dólares com que adquirem a matéria-prima.

Isto, porque na revisão das taxas de 01 de Maio, a FED deverá manter tudo como está devido à persistente recusa da inflação em ceder à vontade das autoridades financeiras e económicas norte-americanas, o que, normalmente, se ressente no valor cambial dólar.

Ora, neste jogo da corda, de forças equivalentes de um e do outro lado, os analistas procuram um factor que desequilibre e permita mexidas nos gráficos, tanto do Brent, em Londres, como no WTI, em Nova Iorque.

Um incidente, mais um, no Mar Vermelho, com um ataque dos rebeldes iemenitas a um porta-contentores, o MSC Orion, de propriedade israelita, apesar da sua bandeira de conveniência portuguesa, além de dois navios de guerra norte-americanos, provocou um ligeiro alvoroço nos mercados...

Mas não é um factor decisivo e, depois de uma ligeira interrupção no equilíbrio, voltando o Brent, que é o que mais interessa às exportações nacionais, a subir ligeiramente, a expectativa é que, rapidamente, os gráficos voltem ao entediante estado de... e agora?!.

Ou seja, com a chama do georisco e geoexplosão no geoestratégico Médio Oriente em vias de ser extinta e com a questão das taxas de juro nos EUA vistas como um simples e passageiro desarranjo intestinal, como sempre sucede, do caos far-se-á luz.

Embora os analistas mantenham um espaço de dúvida, porque não seria a primeira vez que as negociações no Cairo falhariam, nem a segunda que as taxas de juro nos Estados Unidos serviriam para controlar os mercados, o foco táctico está na procura do 3º elemento estratégico.

E esse, "se não agora, quando?" está onde sempre esteve, pelo menos há mais de dois anos... na guerra da Ucrânia, onde as forças ucranianas podem voltar, a qualquer momento, a possuir capacidades extra para atacar em profundidade território russo e, em especial, a sua infra-estrutura petrolífera, assim que chegarem os misseis prometidos pelos EUA.

É que, entre o arsenal a caminho da Ucrânia no âmbito do pacote de ajuda militar recentemente aprovado no Congresso dos EUA, no valor de 61 mil milhões USD, estão dezenas de ATACMS, os misseis de médio-longo alcance com que as refinarias russas podem ser destruídas com alguma facilidade, porque já o foram no passado recente com simples drones.

E é neste baile de máscaras, com personagens ameaçadores a rodopiar pelo salão de festas global que o barril de Brent estava esta manhã de terça-feira, depois de uma abertura a encolher, pouco antes das 10:00, hora de Luanda, a valorizar ligeiramente, 0,26%, para os 88,63 USD, número que ainda é significativamente simpático para as contas angolanas.

Que são simples de fazer...

... porque, apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 88 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.