Com a escaldante situação gerada no Médio Oriente (ver links em baixo nesta página), região que concentra a maior parte do petróleo que chega aos mercados internacionais, pelo ataque do Hamas ao sul de Israel e o contra-ataque israelita, o medo de um alastramento levou a matéria-prima a recuperar o fôlego que vinha perdendo nas últimas semanas devido a uma inesperada redução do consumo global e receio de arrefecimento da economia chinesa.

Depois de ter andado acima dos 95 USD durante largas semanas, o Brent foi caindo, a partir de 27 de Setembro e chegou mesmo aos 84 USD a 05 de Outubro, prometendo uma descida mais acentuada... até que o Médio Oriente voltou a pegar fogo.

Quando os mercados voltaram a abrir a 09 de Outubro, já sob o efeito dos ataques em Gaza, o barril trepou de imediato até aos 88 USD e, esta segunda-feira, 16, com o reforço do risco sublinhado pela ameaça do Irão de intervir no conflito de Gaza, o gráfico saltou para os 91, estabilizando nesta fasquia ao longo do dia...

Este sobe e desce é especialmente relevante para as economias mais dependentes da exportação de crude, como é o caso de Angola e estão a aproveitar o máximo que podem os actuais preços elevados.

Mas não é propriamente o caso de Angola, que, sendo verdade que se os preços estivessem em baixa, o problema seria ainda mais grave, está longe de conseguir fazer reverberar na economia nacional os 90 USD por barril devido à sua escassa produção, com tendência de queda ainda mais severa, e à qual o Governo pretende dar uma resposta.

Isso mesmo ficou claro esta segunda-feira, no discurso do Estado da Nação do Presidente João Lourenço, onde este abordou o assunto, deixando garantias de estar atento à necessidade de manter a produção acima dos 1, 1 mbpd.

Para isso, disse estar a prever a licitação no país de cerca de 50 novos blocos petrolíferos até 2025, com os quais se deverá garantir um travão à quebra na produção a que o país assiste impotente nos últimos anos, em resultado do desinvestimento das multinacionais a partir de 2014, tanto na manutenção dos blocos e campos como na pesquisa e produção.

O chefe do Executivo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir esse objectivo com os campos "Ndola Sul", "Agogo Fuel ou os projectos "Begónia", "Cameia" e "Golfinho", gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década.

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, manter o Brent acima dos 90 USD permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista e gera superavit relevante face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

O petróleo representa hoje mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.