A morte de Floyd foi filmada e divulgada massivamente em directo nas redes sociais chegando de imediato aos media tradicionais norte-americanos e internacionais e rapidamente resultou num dos mais violentos protestos de rua naquele país em décadas por causa de mais um abuso de força policial contra um negro indefeso e, presumivelmente, inocente.
Os quatro agentes envolvidos na morte de George Floyd já foram, segundo a imprensa norte-americana, despedidos da corporação de Minneapolis, mas isso não acalmou as dezenas de milhares de pessoas, na sua maioria negros, mas também com muitos brancos e hispânicos a mostrar a sua indignação por mais este episódio de violência policial sobre pessoas de raça negra, alastrando-se os protestos a cidades como Los Angeles.
A morte de Floyd, um negro, às mãos de um policia branco, apesar de se tratar de recorrente, uma excessiva normalidade nos EUA, foi desta vez mais dramática que outros episódios em que negros são filmados a morrer por actos policiais porque a sua agonia foi filmada de muito perto, vendo-se bem o pânico na sua cara e o joelho do agente da polícia no seu pescoço, enquanto gritava, na medida do possível, que não estava a conseguir respirar.
Algumas das pessoas ouvidas pelos media norte-americanos retratam a situação como sendo uma "execução em directo" porque aquelas imagens de terror estavam a passar ao segundo da realidade para as redes sociais, com milhões de visualizações imediatas.
Com tamanha intensidade, este é claramente o episódio que mais semelhanças tem até hoje com o espancamento de Rodney King, em 1992, na cidade de Los Angeles, um homem também negro que foi filmado a ser brutalmente agredido por um grupo de polícias e que deu origem aos mais violentos protestos de rua em muitas décadas, de seguida e ainda mais violentos depois do julgamento dos agentes da autoridade que saíram, todos, em liberdade ou com ligeiras condenações.
Após a morte de Floyd, surgiram os primeiros protestos e algumas estrelas do desporto e das artes norte-americanas, como o basquetebolista Lebron James, surgiram a acusar os policiais envolvidos de racismo. Na última noite, de quarta para quinta-feira, voltaram a ver-se imagens de destruição e confrontos com a polícia tanto em Minneapolis, onde tudo começou, como também em Los Angeles e outras cidades, para já com menor intensidade mas com sinais de intensificação.
No seguimento destes protestos, os quatro agentes envolvidos, que tinham sido apenas suspensos, acabaram por ser despedidos em definitivo e o FBI iniciou investigações ao sucedido.
O governador do Minnesota, estado norte-americano agora no epicentro dos protestos, inicialmente pacíficos, sob o slogan "A vida dos negros é importante", mas depois com uma violência que há muito não sucedia nos Estados Unidos, tornou pública a sua indignação, criticando a actuação dos agentes da polícia. Tim Walz prometeu empenhar-se na clarificação deste episódio.
Com o aumento dos protestos, as forças policiais foram obrigadas a criar barreiras de segurança nas imediações da sede do Departamento de Polícia de Minneapolis para evitar o avanço de milhares de pessoas enfurecidas.
Enquanto avançavam, os manifestantes foram alvejados com granadas de gás lacrimogéneo e os bombeiros eram chamados para dezenas de focos de incêndio na área urbana, apesar de o advogado e a família de George Floyd terem feito múltiplos apelos a que os milhares de pessoas nas ruas não enveredassem pela violência e também para evitarem os ajuntamentos devido à pandemia galopante da Covid-19 no país.
No entanto, segundo relata a generalidade da imprensa norte-americana, o presidente da municipalidade (mayor) de Minneapolis, Jacob Frey, na quarta-feira não escondeu a sua indignação e pediu mesmo publicamente uma acusação judicial clara contra o agente da polícia filmado a sufocar Floyd, de seu nome Derek Chauvin, com o joelho sobre o seu pescoço enquanto a vítima agoniava em directo nas redes sociais.
"George Floyd merece justiça, a sua família merece que seja feita justiça e a comunidade negra merece que seja feita justiça, e a nossa cidade merece ver ser feita justiça", afirmou Frey numa conferência de imprensa, depois de a família exigir que a acusação seja por homicídio qualificado.
Por seu lado, o advogado do agente que matou Floyd recusou-se a fazer um pronunciamento de defesa do seu cliente mas o chefe do Departamento da Polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, já veio garantir que o que se viu nas imagens "não reflecte de forma nenhuma os valores, a visão e a cultura do seu Departamento".
Como aconteceu?
Floyd trabalhava numa loja, a Conga Latin Bistro, há cinco anos, pouco depois de ter chegado à cidade vindo de Houston, Texas, de onde era natural, para ser motorista de camiões pesados.
Os amigos e familiares ouvidos pelos media coincidem na opinião de que George Floyd não era pessoa para quezílias nem para fazer mal a ninguém.
O homem de 46 anos foi detido na terça-feira depois de a polícia ter sido chamada por causa de uma alegada tentativa de uso de moeda falsa e encontrou George Floyd dentro do seu carro.
Quando chegaram os quatro agentes, detiveram-no para averiguações, alegadamente sem que tivessem indicações precisas sobre o seu envolvimento em qualquer tipo de crime.
De seguida, Floyd é colocado no chão, algemado e Chauvin, o agente da polícia agora acusado de homicídio, passa a surgir nos ecrãs de todo o mundo a literalmente sufocá-lo enquanto este diz que não está a conseguir respirar e pede "água por favor!".
Num vídeo de vigilância numa loja nas proximidades, Floyd é visto a ser conduzido para fora do seu carro, já algemado e a ser forçado a sentar-se no chão.
A mais recente vítima negra às mãos de agentes da polícia brancos nos EUA acabou por morrer num hospital próximo, estando a sua morte a ser investigada pela justiça local, estadual e federal.
O FBI foi igualmente envolvido nas investigações, com o objectivo, segundo um elemento da divisão de Minneapolis, de averiguar se os agentes da polícia "intencionalmente privaram George Floyd do direito de protecção garantido pela Constituição e pelas leis dos EUA".
Entretanto, os protestos de milhares de pessoas alargam-se a outras cidades dos Estados Unidos e este tema ameaça ganhar uma dimensão nacional devido ao cansaço generalizado de episódios de violência policial sobre a comunidade negra, praticamente em todo o país.