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Apesar de os aliados de Israel, especialmente os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a União Europeia, os três maiores financiadores e fornecedores de armas a Telavive, estarem a intensificar os pedidos de contenção nas operações militares em Gaza, as IDF não mostram estar a ceder à veemência desses pedidos.

Porém, segundo vários analistas, Israel não mostra estar ou poder vir a ceder aos pedidos de contenção dos seus aliados porque sabe que estes só estão a ser vocalizados pelos lideres norte-americanos, europeus e britânicos devido à pressão das suas populações que se manifesta contra a guerra nas ruas da Europa, dos EUA e do Reino Unido mas que em nada alteraram o massivo apoio financeiro e em armamento dispensado a Israel que, sem esse apoio quase ilimitado, dificilmente aguentaria estar há dois meses a gastar quase 300 milhões USD por dia com esta guerra.

Guerra essa que tem como objectivo acabar para sempre com o Hamas, o que se viu já ser uma impossibilidade, porque não só um número elevado dos seus combatentes integrados nas Brigadas Al Qassam, como os seus dirigentes políticos estão fora da Faixa de Gaza, seja, no caso dos primeiros, na Cisjordânia e no sul do Líbano, e nos segundos, em países como o Qatar e o Irão ou mesmo o Líbano.

Na verdade, os dois objectivos principais das operações militares em Gaza, que já duram há quase dois meses, depois do selvagem ataque do Hamas no sul de Israel a 07 de Outubro, onde foram mortos mais de 1200 pessoas, na maioria civis, não são exequíveis segundo a maioria dos analistas e o único que foi parcialmente conseguido, a libertação de quase metade dos reféns nas mãos do Hamas, só foi conseguido com o cessar-fogo limitado e por razões humanitárias que teve lugar na passada semana.

Desde que essa pausa humanitária nos combates terminou, Israel voltou a bombardear com especial intensidade o território, tendo mesmo alargado esse tapete de bombas do norte para sul de Gaza, com mais de mil mortos em menos de uma semana, deixando milhões de palestinianos civis sem saber para onde ir de forma a manterem-se seguros, visto que os ataques israelitas estão a atingir também hospitais, centros de acolhimento da ONU e outras instalações de organizações humanitárias, como o Crescente Vermelho.

Os relatos que estão a sair de Gaza, apesar de as IDF já terem matado mais de 60 jornalistas com o objectivo claro de influenciar o fluxo de relatos do terror que se vive naquele território, não deixam dúvidas de que o Governo israelita, o mais extremista e radical do ponto de vista religioso de sempre na história do país, liderado por Benjamin Netanyhau, não vai acolher os pedidos de contenção nas suas acções militares que estão a ser feitos pelos países ocidentais, pela Rússia e pela China, além dos países da região, como a Turquia, o Qatar ou a Arábia Saudita e o Irão.

Apesar de até ao momento já terem sido mortos mais de 16 mil palestinianos civis - oito mil crianças e mais de 70% destes serem crianças e mulheres -, e mais de 45 mil terem sido feridos, em apenas dois meses, numa guerra que já bateu todos os trágicos recordes em mortes de jornalistas e funcionários das Nações Unidas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, veio, nas últimas horas, garantir que as IDF só vão parar as suas operações em todo o território quando o Hamas estiver totalmente destruído e Gaza estiver totalmente desmilitarizada.

O que parece estar longe de poder ser um objectivo exequível, mesmo que, segundo a ONU, mais de 75% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estarem já deslocados das suas casas, serem, assim, refugiados internos num território que tem apenas 365 kms2, o tamanho de uma cidade média em África, que se estende por uma faixa de 40 kms de cumprimento por nove de largura, fazendo desta uma das geografias do mundo com maior densidade populacional, mais de 6500 habitantes por km2.

Esta situação (ver links em baixo nesta página), segundo James Eider, porta-voz do UNICEF, está a criar um cenário perfeito para a explosão de doenças infeciosas e diarreicas por falta de cuidados mínimos de saúde, alimentos e água potável - apesar de ter começado a chover intensamente na região - e existe mesmo o risco de as doenças e a subnutrição poderem vir a ser ainda mais mortíferos que os bombardeamentos.

E quando cresce a vaga de condenações às acções israelitas, com, por exemplo, o Presidente da Turquia, Recep Erdogan, a pedir que as lideranças israelitas, especialmente o seu primeiro-ministro, Netanyahu, sejam julgadas por crimes de guerra nos tribunais internacionais, o risco de alastramento deste conflito a uma boa parte do Médio Oriente cresce, com alguns países a chamarem a atenção para isso mesmo pelo Irão e pelo Qatar, os dois mais próximos do Hamas, embora negando que tenham tido qualquer coisa a ver com o ataque de 07 de Outubro.

Situação humanitária agrava-se a cada minuto que passa

Com este cenário dramático em pano de fundo, a agência da ONU para os Refugiados em Gaza (UNRWA), que tem chamado a atenção para a brutalidade exercida sobre civis deste o início deste conflito que faz parte, como disse o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, faz parte de uma guerra de décadas que resultou da ocupação alargada da Palestina por Israel, diz agora que a "tudo está a ficar mais difícil de minuto a minuto" em todos os aspectos.

Esta entidade chama a atenção especialmente para o drama que desfila perante os olhos do mundo dos deslocados, sem condições mínimas de abrigo, alimentação ou saúde básica, e veio agora dizer que, apesar do drama que ocorre já, tudo pode ficar muito pior até ao limite do impensável com as novas vagas de deslocados, que são já centenas de milhares de pessoas que se deslocam de locais para onde já tinham fugido em busca de protecção que nunca encontraram.

"Já não há mais lado nenhum para onde fugir", disse a UNRWA numa publicação na rede social X, onde acrescenta que as vagas de refugiados são já constantes porque nem as organizações internacionais têm onde as acolher nem se pode saber ao certo onde ir para não ser bombardeado por Israel, como se está a ver em Khan Younis, a maior cidade do sul de Gaza que era, até há alguns dias, indicada pelas IDF como local para onde as pessoas deviam ir e hoje está sob fortes bombardeamentos.