Os nazistas destruíram total ou parcialmente mais de 1700 cidades e mais de 70000 aldeias e vilas na URSS onde viviam por volta de 60 milhões de pessoas, 25 milhões dos quais perderam seus lares. Uma das maiores atrocidades na história foi o cerco de Leninegrado, atual São Petersburgo, cidade de 3 milhões de habitantes na altura. Esta barbaridade durou 872 dias e levou as vidas de 1,5 milhão de civis, com 97% deles terem morrido por causa de fome.

Graças aos esforços de cada cidadão soviético na frente e na retaguarda a URSS conseguiu quebrar a coluna vertebral do Inimigo Capital, expulsar os nazistas da nossa terra natal e, antes de içar a bandeira do Exército Vermelho no próprio covil da Besta em Berlim, trouxe liberdade e esperança dum futuro melhor para 11 países da Europa. O Tribunal de Nuremberga que seguiu a Grande Victória condenou definitivamente a ideologia nazista desvelando o carácter desumano desta própria ideia.

Nas cinzentas do velho sistema de relações internacionais foi forjado um novo, com base na Carta das Nações Unidas, que devia prevenir uma nova guerra de mesma escala, o que afinal tem alcançado. Centenas de povos oprimidos pelo julgo colonial conquistaram soberania. No processo de descolonização um papel importante jogou a URSS que nunca retirou do solo dos novos Estados independentes nada para além de corpos dos cidadãos soviéticos falecidos ao assistir na causa justa de conquistar e defender a independência.

Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Os velhos feridos curarm-se, as velhas amarguras esqueceram-se, ou pelo menos parecia assim. Os desequilibrios político-económicos do sistema socialista levaram à desintegração da URSS, o liberalismo prevaleceu e para uns poucos anos parecia que as guerras entre seres humanos iriam acabar para nunca voltar. Porém, muito cedo provou-se que a liberdade é só para os liberais. Esta "victória" na Guerra Fria injetou a liderança dos "vencedores" com o falso sentimento de superioridade e excepcionalismo do seu sistema político, organização da sociedade, seu modo de viver. É de aí que começou esta nova "cruzada" deles de aproximar todos a um único patamar, o seu, onde eles dominariam e outros apenas seriam seguidores com soberania limitada se qualquer.

As elites globalistas continuam a insistir no seu excepcionalismo, a dividir os povos e as sociedades, a provocar conflitos sangrentos e golpes de Estado, a semear o ódio e nacionalismo agressivo, a destruir o conceito da família e os valores tradicionais que tornam as pessoas seres genuinamente humanos. Tudo isso para continuar a ditar e a impor a sua vontade, as suas regras e, de facto, um sistema de roubo, de violência e de repressão. Parecem ter esquecido a que conduziram as pretensões loucas dos nazistas de dominar o mundo. Tentando, por mãos do pobre povo ucraniano estrangular a Rússia como um polo soberano do poder no palco internacional, parecem ter esquecido quem derrotou o mal monstruoso do nazismo. Mas o velho proverbio diz: quem não aprendeu as lições do passado, está condenado a repetir os mesmos erros.

Para nós, na Rússia, a memória dos defensores da Pátria é sagrada, guardamo-la nos nossos corações. Para nós a Grande Guerra Patriótica não é concluída até nos parlamentos continuam a aplaudir aos colaboradores com nazistas, até nas Forças Armadas de países existem unidades com símbolos de divisões de Waffen-SS nas insígnias, até existem políticos que permitem denominar outras etnias como inumanos justificando assim o direito a cometer crimes de guerra, até retirarmos do nosso solo e identificarmos os restos mortais do último soldado desconhecido falecido entre 1941 e 1945.

O enorme preço que pagámos quase um século atrás pelo nosso futuro e pelo futuro de toda a humanidade serve para os povos da Rússia de vacina contra excepcionalismo, militarismo e pretensões de dictar a nossa vontade aos outros. Não cessaremos lembrar a todos que querem esquecer as lições de horríveis anos 40 do século XX que o mais importante é a paz e não ser primeiros a qualquer custo. Cada 9 de Maio o principal brinde de cada cidadão russo é "Que nunca mais haja guerra!". E de verdade, que nunca mais haja - a humanidade não se recuperará de uma terceira guerra mundial.

*Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Federação da Rússia na República de Angola