A despesa para aquisição de um terreno no Calumbo, por 25 milhões de dólares, a que se juntaram mais 33,9 milhões USD para obras de construção do Centro Especializado de Pandemias e Endemias foi autorizada pelo Presidente da República em despachos que justificavam as medidas com "a imperiosa necessidade da criação de condições dignas para se evitar a propagação descontrolada do vírus, bem como de aumentar as acomodações hospitalares para dar cobertura ao tratamento dos cidadãos que eventualmente vierem a ser infectados e daqueles que deverão ser submetidos a testes de despistagem ou isolamento temporário".

As criticas não se fizeram esperar, e esta quita-feira, à margem da inauguração do centro, João Lourenço aproveitou para responder aos que reprovaram a sua decisão.

"Com relação a este centro, dizer que houve muita polémica quando se anunciou a decisão da construção desta unidade. A resposta aos polémicos é o que estamos a apresentar hoje, portanto, venham ver, esta é a resposta".

O despacho que criou mais polémica foi publicado em 2020, e determinou a compra deste complexo residencial, um imóvel com 200 residências, pelo valor de 24,9 milhões de dólares, gerando críticas vindas de organizações da sociedade civil e de partidos políticos, entre os quais a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), que questionou a compra das casas.

"As casas em questão são de baixa renda e o seu valor real de mercado é de apenas oito milhões de kwanzas", referiu, na altura, a UNITA, indicando ter pedido uma avaliação a especialistas independentes, pelo que estariam "a ser demasiadamente sobre-facturadas".

Outra voz que se levantou foi a do deputado independente da Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), Makuta Nkondo, que disse à Voice of América (VOA), que o preço pago era "um roubo" e defendeu que o Presidente João Lourenço está mal-acompanhado e que "enquanto estiver com os actuais auxiliares o sistema continuará corrupto".

Gaspar dos Santos, secretário da Juventude do Partido de Renovação Social (PRS), que visitou as habitações, também declarou à VOA que os preços demonstram uma clara sobrefacturação e defendeu a "revogação do decreto que autoriza a respectiva aquisição" por ser "um autêntico roubo".

A ministra da Saúde de Angola disse na cerimónia de inauguração que o centro dispõe de 1.316 camas para quarentena, isolamento e internamentos.

Sílvia Lucuta acrescentou que nesta primeira fase, a nova infra-estrutura conta também com 73 camas para cuidados intensivos, 91 para cuidados intermédios, distribuídos por adultos e crianças.

"Esta unidade possui também uma área de tratamento da função renal contínua intermitente, um banco de sangue, incluindo a implantação de um desleucocitador, minimizando os riscos adversos, garantindo uma transfusão sanguínea segura", referiu.

A infra-estrutura erguida numa área de 15,7 hectares, conta igualmente com serviço de triagem, laboratório, imagiologia, fisioterapia, psicologia, farmácia, serviços de apoio, reservatório de água com capacidade para 500 mil litros, um heliporto, morgue e um posto policial, informou Sílvia Lutucuta.