À saída do avião, de fabrico canadiano, dou de caras, a um canto da placa, com o «caixão voador», o IL 76, um avião cargueiro de fabrico russo que durante anos servira os empresários primeiro Valentim Amões e depois Santos Bikuku. Quis o destino que a capital da Lunda Sul fosse o «cemitério» dessa polémica aeronave que, vergada ao peso da idade aliada à falta de manutenção, não mais levantou o voo.
À memória desfilam-se-me imagens que correram mundo da «maratona aérea» promovida pelo Movimento Nacional Espontâneo (MNE) quando, da realização do Afrobasket Madagáscar-2011, em que Fiel «Didi» e pares recorreram ao referido cargueiro para levar os excursionistas a Antananarivo, em meio às bebedeiras colectivas e às casas de banho improvisadas da ELISAL no avião.
Depois do turbulento voo ao país Índico houve uma tentativa frustrada de levar os excursionistas a Guiné Bissau, um desejo não concretizado devido às inúmeras críticas às questões de segurança do voo.
Ainda na placa, sou assalto pelas imagens do cargueiro a fazer-se à pista do aeroporto do Kuito quando, ao serviço do projecto Criança Futuro, uma organização que tinha como «patrono» o general Fernando Miala, levava víveres às crianças desamparadas do Bié.
Se os aeroportos são o «cartão-de-visita» de uma determinada cidade, o de Saurimo é, sem dúvida, o espelho da organização e limpeza que imperam na cidade capital da Lunda Sul.
A corrida de motorizada do aeroporto ao centro da cidade custa 1000 Kwanzas, de carro o dobro do preço. Os taxistas justificam a alta de preços à escassez de combustíveis.
Saurimo é uma cidade limpa, para não dizer exageradamente limpa, se comparada a Luanda ou às demais urbes do país onde impera o lixo e a imundice. Não há amontoado de resíduos sólidos nas ruas a empestar a atmosfera de cheiros pestilentos. Os jardins, impecavelmente aparados, convidam ao repouso e transmitem uma sensação de paz espiritual.
Os méritos que fazem de Saurimo uma cidade viçosa não devem ser unicamente atribuídos aos seus habitantes, mas também, ao que consta, ao dinamismo da governação local, de jovens gestores administrativos apostados em fazer da capital da Lunda Sul uma cidade acolhedora e ecológica.
A equipa governativa não escapa, porém, às críticas de alguns habitantes que dizem ter ordenado uma «operação de tapa buracos» em vésperas da última visita do Presidente da República àquela cidade, como forma de esconder o mau estado das vias.
Nos cruzamentos, os motociclistas param ao sinal vermelho e não invadem os passeios com os seus veículos sobre duas rodas.
Em Saurimo regista-se uma enorme procura de leitos hoteleiros, sobretudo por parte dos trabalhadores das empresas minerais em trânsito para o Dundo.
No hotel Chawissa, uma das poucas unidades hoteleiras em funcionamento, há uma corrida frenética em busca de quartos. Talvez, como resultado da enorme procura e do facto de outras unidades congéneres estarem em obras, o hotel tem prestado um mau serviço.
No «Chawissa», cuja diária começa nos 18 mil Kz, não há serviço de internet porque o dono do hotel, em ex-governador e ministro no Executivo de João Lourenço- achou que a mesma era «muito cara», segundo revelou um funcionário do hotel. A piscina e o ginásio estavam encerrados ao público por razões que os recepcionistas não conseguem explicar. Os pequenos-almoços são servidos sob a queixa dos clientes devido à má qualidade do serviço.
Embora os quartos do hotel dispunham de pequenos frigoríficos, mas neles não há água. Sintomático! Diz-me, em jeito de confidência, um dos recepcionistas que a estratégia visava facturar ao máximo com o preciso líquido. Uma pequena garrafa de água custa qualquer coisa como 600 kz, se levada ao quarto pelos funcionários, o preço sobe até aos 800 Kz. Os clientes estão proibidos de trazer água de fora para consumi-la no interior do hotel. Uma verdadeira «máquina de caça níqueis»!
Nos postos de combustível há filas enormes, de forma ordeira, à espera do abastecimento de combustível, à vez. O gerente das bombas afectas à empresa Salala, Lda, lamenta a enorme procura pelos combustíveis e as poucas quantidades que recebe da Sonangol. Deposita, porém, muitas esperanças de que a escassez de combustíveis venha a ser ultrapassada, após a conclusão das obras dos depósitos de armazenamento de combustível que estão a ser erguidas naquelas paragens.
Na pacata cidade do Leste de Angola havia uma ligeira agitação nos hotéis entre as pessoas ligadas ao futebol quando lá esteve a equipa do «Sagrada», os vizinhos do norte que vieram disputar uma partida com os locais.