O "esquecimento" dos 42 anos do 25 de Abril como data de crucial importância para todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, ultrapassando largamente a ideia de que é uma data a ser comemorada apenas por Portugal, é grave.

Como se guardassem a data no bolso, esquecendo que, em todos os sentidos, constitui um momento fulcral para o posterior desenvolvimento da realidade então vigente em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Como se quisessem tirar aos mais jovens o direito a saberem da sua própria história, do seu passado recente (40 anos na História de um país é uma gota de água num oceano), do que resultou num momento fundamental para a conquista das independências nacionais e o fim do império colonial.

Estas "falhas" de memória não são, obviamente, ingénuas, pretendendo que as tomemos como definitivas e, com pouca lucidez e menor inteligência, acreditar que nos levam a adoptar o que algumas cabeças pouco pensadoras e menos ainda iluminadas vão "cozinhando" nas suas elucubrações.

O 25 de Abril, quaisquer que sejam as explicações que nos queiram vender, é uma data definitivamente integrada na História da República de Angola, queiram ou não queiram, gostem ou não gostem.

E é preciso que as gerações mais novas e futuras saibam as repercussões do 25 de Abril em Angola e a forma como se foram desenhando as alternativas para o que seria um acidentado e complicado processo político - e militar até - e depois do dia 11 de Novembro de 1975.

É preciso que se recorde (e se respeite) o papel desempenhado por gente de todas as classes sociais, de todas as origens, que, não pertencendo, em termos práticos, aos movimentos de libertação, criou condições que se revelariam essenciais para o ulterior desenvolvimento da luta.

Um outro exemplo destes sucessivos lapsos de memória - que para quem participou e assistou à segunda parte de todo este processo, é, além de doloroso, de uma injustiça tremenda - tem a ver com um lento mas suficientemente claro apagar do papel de Cuba e dos seus cidadãos - militares ou civis - em momentos históricos que não podem nem devem ser esquecidos.

Tentar retirar o nome de Cuba, os heroicos militares cubanos e o próprio Comandante Fidel Castro de uma fase que garante a proclamação da nossa Independência e a sua contribuição na completa alteração do panorama geopolítico do nosso subcontinente também não se recomenda.

Cuba deixou em Angola, o exemplo de um dos mais importantes símbolos de solidariedade activa, participativa e solidária de que há memória na História do mundo em que vivemos.

Por mais que as realidades subsequentes se tenham alterado, tendo cada país seguido o seu próprio caminho e escolhido as suas vias de desenvolvimento, estamos a falar de duas realidades que, sendo distintas, não podem autorizar ninguém a querer apagá-las da nossa vida, da nossa História.

Como se fosse possível apagar o passado e adaptá-lo a qualquer espécie de interesse momentâneo.

Há que ter respeito pelos percursos que seguimos, independentemente da posição que cada um tomou.

E acima de tudo é preciso respeitar a verdade. E não tentar criar uma verdade à medida do que possa interessar seja a quem for.