Depois do acordo alcançado pelos 14 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a 30 de Novembro de 2016, ao qual se juntaram produtores não-membros do cartel, como a Rússia, que fizeram a oferta mundial descer 1,8 milhões de barris por dia (bpd), os preços dispararam dos 40 para os 56 dólares actuais.

É uma escalada vertiginosa se se tiver em conta que, no início de 2016, o barril caiu para a casa do 20 dólares, mas ainda longe dos 100 de 2014 e ainda mais distante dos 147 a que chegou em Julho de 2008.

A pergunta que se impõe por estes dias é: até onde poderá subir o barril? Seguindo uma lógica simples, os 100 dólares não parecem impossíveis se a referência forem os 147 de 2008, mas difíceis se o diapasão for a queda abrupta de 2014 a Fevereiro de 2016, onde o barril passou de uma centena de USD para escassos 24.

Quanto aos sinais que podem ser usados para seguir este mapa complexo do mercado petrolífero, dois surgem como importantes; logo à cabeça o facto de, se o acordo da OPEP-Rússia for cumprido, até meados deste ano a oferta global da matéria-prima pode passar de um excesso de 1,5 milhões de bpd para um défice de 300 mil bpd, contando com a diminuição da produção dos acordados 1,8 milhões bpd.

O outro sinal pode ser lido de forma caseira, em Angola, que viu os investidores a admitirem agora melhores condições no futuro breve para que o país pague a dívida soberana. Isto, tendo em conta que o petróleo é, numa economia ainda quase exclusivamente dele dependente, a bussola, então o seu preço está intimamente ligado a esta percepção dos mercados financeiros.

Tudo, porque a taxa de juro exigida para a transacção de 1,5 milhões de USD em títulos de dívida soberana de Angola, referentes a 2014, (um dos vários empréstimos realizados) caiu para os 9 por cento, como avançou recentemente a Bloomberg, citada pela Lusa.

De acordo com dados da agência de informação financeira, a taxa de juro de referência que os investidores usam para transaccionar estes títulos, que vencem em 2025, está desde o início do ano sempre abaixo dos 10 por cento, aproximando-se dos 9,5 a que foi vendida em Novembro de 2014.

Ora, sendo os compradores deste tipo de dívida muito sensíveis aos dados económicos dos países tomadores, é possível concluir, mesmo que isso não seja a evidência mais clara, que Angola emerge agora aos seus olhos melhor posicionada para cumprir os seus compromissos, o que só pode ser compreendido porque se espera uma subida significativa do preço do petróleo.

E foi precisamente para isto que a OPEP, de que Angola é parte, e a Rússia, acordaram, num momento histórico, cortar a sua produção.

Os riscos do "fracking"

Mas nem tudo são dólares contados, porque o mercado pode voltar a ser inundado com milhões de barris norte-americanos oriundos da indústria do xisto, cujo processo de extracção de petróleo e gás consiste em fazer explodir rocha de xisto a grande profundidade, através da injecção de água a altas pressões, por forma a recolher a matéria-prima existente no interior dos compostos rochosos.

Esta foi a área mais devastada pelos preços baixos, porque, devido aos elevados custos da extracção através desta técnica, a maioria dos produtores deo "fracking" nos EUA ou foram à falência ou fecharam as torneiras quando o barril desceu abaixo dos 50 dólares.

Com esta subida para os actuais 56 USD, e perante perspectivas de que o barril pode chegar aos 60 ou 70 no próximo ano, muitos destes produtores podem ser tentados a regressar à produção e esbater assim os efeitos da redução resultante dos acordos da OPEP, podendo mesmo ser o pior entrave aos desígnios do cartel, a que se juntou a Rússia, e outros países produtores fora da organização.

Um dos grandes desafios da OPEP é agora encontrar uma solução que permita manter a produção global abaixo das necessidades do mercado mundial, com a redução da produção tradicional e manter os novos produtores do "fracking" fora da equação.

Aos olhos de um leigo, isto parece ser a quadratura do círculo... mas a imprensa especializada também não parece saber como é que isso será possível. É apenas dado adquirido que a OPEP terá de o tentar, porque, caso contrário, todos os esforços para elevar o preço do barril pode desmoronar-se como um monte de barris em precário equilíbrio ou mal escorado...

Outro dos riscos é a tradição entre os países da OPEP em não cumprirem os acordos, facto já constatado em diversos momentos da história do cartel. E aí pouco ou nada haverá a fazer.

A almofada gerada pela própria crise petrolífera

Voltando ao registo optimista, na perspectiva dos países produtores, não deixa de fazer sentido lembrar um recente estudo da consultora Mackenzie, onde se recorda que, também por causa dos baixos preços, as gigantes mundiais do crude deixaram de investir na prospecção de novos depósitos, a ponto de não haver tão poucas descobertas de bolsas de petróleo desde os anos de 1940.

E isto significa que, em breve, com muitos dos os blocos actuais a secarem ou em vias disso, nos próximos anos, como também lembrou a presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Isabel dos Santos, numa entrevista dada a um canal televisivo em Londres, Inglaterra, a oferta de crude vai diminuir e isso, mesmo que o consumo mundial se mantenha nos cerca de 90 milhões bpd actuais, (40 por cento são produzidos pela OPEP), a oferta pode acabar por não suprir as necessidades, sendo essa mais uma catapulta para elevar o preço do barril.