O Banco Nacional de Angola (BNA) e o Banco da Namíbia (BN) concluíram as negociações de renegociação da dívida de cerca de 300 milhões de dólares norte-americanos que Angola tem para com a Namíbia no âmbito do acordo cambial bilateral assinado em 2015 e que durou poucos meses.

Este desequilíbrio cambial, que levou à sua suspensão em finais de 2015, cerca de um ano e meio após ter sido implementado, foi desenhado para facilitar as transacções comerciais entre os dois países vizinhos, especialmente nas deslocações de cidadãos de um para o outro lado da fronteira.

As coisas não resultaram porque a Namíbia foi, ao longo dos meses, acumulando dívida angolana, enchendo os seus cofres de kwanzas, quando o acordo impunha que estes fossem periodicamente comprados pelo BNA em divisas.

O que acabou por não acontecer com a regularidade acordada e o resultado foi um avolumar da dívida angolana que chegou aos quatro mil milhões de dólares namibianos, aproximadamente 300 milhões de dólares norte-americanos.

Foi neste contexto que, segundo a imprensa namibiana, os governadores dos dois bancos centrais assinaram um acordo em Windhoek que estabelece os parâmetros do reescalonamento do pagamento deste montante.

Isto, depois de em Dezembro de 2015 ter ficado claro o fim deste relacionamento cambial devido ao desequilíbrio gerado pelas vagas de angolanos que nos tempos em que o acordo durou aproveitaram para fazer compras, algumas avultadas, no país vizinho com kwanzas.

Este acordo, segundo o site do New Era, citando o governador do Banco da Namíbia, Ipumbu Shiimi, impõe o encurtar do calendário dos pagamentos e o aumento do valor inicial pago periodicamente, de 20 milhões de USD, para uma verba que ainda não foi tornada pública.

O formato do novo acordo assinado entre os dois bancos centrais será tornado público nos próximos dias, segundo o governador Ipumbu Shiimi, depois de o BN e o ministério das Finanças namibiano consolidarem as informações a ele referentes.

Este reescalonamento da dívida angolana para com o seu vizinho do Sul, segundo o governador do BN, não resulta da falta de cumprimento de nenhuma das parte, porque "Angola cumpriu integralmente o que estava acordado", mas sim de um ajustamento que as parte consideraram necessário.

O falhanço do acordo entre os dois países foi, no entanto, claro, quando se revelou desequilibrado a favor de Angola, que tinha na Namíbia um dos poucos países no mundo onde a sua moeda nacional tinha aceitação cambial.

Recorde-se que este acordo foi elaborado quando Angola viu a disponibilidade de divisas diminuir drasticamente a partir de 2014, e aplicado em meados de 2015, devido à queda do preço do barril do petróleo, pondo fim ao que na Namíbia era conhecido como uma espécie de "el dorado" que ia ter com o seu comércio, ou seja, os angolanos viajavam para a Namíbia com os bolsos cheios de dólares norte-americanos.

Mas há outra ideia que Shiimi destruiu: a ideia de que este acordo só tinha beneficiado Angola. Isto, porque, explicou, se não fosse esse mesmo entendimento, as cidades fronteiriças namibianas tinham sofrido muito mais com a crise angolana, porque sem dólares os angolanos não poderiam fazer compras, por exemplo, em Oshikango, e, devido ao acordo, puderam continuar a comprar nos estabelecimentos comerciais com kwanzas.

Quando antes do acordo os angolanos eram obrigados a trocar kwanzas do dólares e depois doláres norte-americanos por dólares namibianos para fazerem as suas compras, com o acordo, os obstáculos intermédios foram anulados facilitando a vida especialmente aos angolanos.

O problema surgiu depois, porque a ideia, plasmada no acordo inicial era que os bancos comerciais recolhiam os kwanzas e, posteriormente, o Banco da Namíbia enviava esses kwanzas para Angola recebendo em troca dólares norte-americanos... o que acabou por não correr como previsto e a acumulação de kwanzas pelo BN tronou-se insuportável a ponto de o acordo ter sido denunciado a 01 de Dezembro

O governador do BN admitiu mesmo, segundo o New Era, após a renegociação do acordo, que inicialmente tinha como pressuposto que os gastos em kwanzas feitos pelo angolanos na Namíbia, especialmente na região de Oshikango, rondariam os 20 milhões USD, mas que, rapidamente, se revelaram aquém da realidade, que superou os 200 milhões USD/mês, tornando o acordo insuportável de manter.

Como vão ser pagos os cerca de 300 milhões de USD em dívida para com a Namíbia, sendo que os 20 milhões/mês se revelou insuficiente, é o dado que falta para terminar este "puzzle" financeiro que ambas as partes querem concluir o mais rápido possível, segundo o governador do Banco da Namíbia, Ipumbu Shiimi.